António Pinto Pires
(Professor)
Efetuada uma abordagem no âmbito do Plano Ferroviário Nacional (PFN), aos contributos recebidos no âmbito da consulta pública entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, a que este plano esteve sujeito, e no que se refere à Linha da Beira Baixa, LBB, podemos constatar taxativamente os poucos contributos recebidos.
O ponto 3 do referido documento, que insere propostas sobre a rede ferroviária, menciona o prolongar a LBB até à Serra da Estrela, assim como a linha Castelo Branco – Pombal. No ponto 5, outras propostas, promover a linha da Beira Baixa.
Regressando ao PFN propriamente dito, refere o mesmo no que diz respeito às reduções de tempo de percurso na LBB, e após a construção do novo eixo Aveiro – Vilar Formoso, projeto que não mereceu a devida aprovação, deverá planear-se um conjunto de intervenções as quais permitam reduzir o tempo de viagem entre Lisboa e Covilhã, pois na realidade, esta ligação não beneficia, no acesso a Lisboa, com a construção de nenhuma das novas linhas previstas no plano.
Desta forma, o objetivo deverá ser um tempo de viagem claramente inferior a 3 horas entre Lisboa e a Covilhã, e inferior a 2h15 entre Lisboa e Castelo Branco num serviço Intercidades a funcionar em moldes semelhantes ao atual. São estes os tempos máximos para que a ferrovia se torne competitiva com a rodovia.
Para obter tais ganhos, será provavelmente necessário construir algumas variantes ao atual traçado que permitam velocidades superiores a um encurtamento do trajeto em, pelo menos, 30 minutos.
E nada mais refere o PFN em termos de concretização, ficando-se por esta intenção generalista, mas sem se referir aos locais que possam e devam ser alvo desse encurtamento de trajeto.
O 6 de Setembro, Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa, desde há muito que se tem vindo a debruçar sobre estas questões.
A LBB não acompanhou a evolução dos tempos e das novas realidades da ferrovia. Poderíamos referir a questão da alta velocidade e do projeto do T deitado, também colocado de parte, devidamente justificado por Arménio Matias e dos benefícios que traria não apenas à região, mas sobretudo ao País. Assim como a recente remodelação do trajeto entre a Covilhã e a Guarda, pois para além da modernização das infraestruturas, pouco adiantaram no encurtamento de distâncias, uma vez que o traçado em nada foi alterado. Com a agravante de se terem construído cais com capacidade muito reduzida para acolher composições de maiores dimensões.
E a questão do traçado continua a ser o grande busílis da questão. Começando pelo atravessamento da Gardunha, a reclamar um novo túnel, e aí estaríamos a retirar cerca de 30 minutos ao tempo de percurso, do Fundão a Castelo Branco. Para além de outras retificações pontuais que não vem ao caso referir por se tornar exaustivo, temos a questão do traçado entre Ródão e Belver.
Não é com o reforço de encostas/barreiras com milhares de euros gastos na sua consolidação com malhas de rede, mas antes recorrer a correções de curvas e até supressão de algumas pontes, recorrendo à construção dos denominados túneis cegos ou em pala, os quais conferiam à linha outros níveis de segurança com os consequentes aumentos de velocidade. E aqui estaríamos a retirar outros 30 minutos ao percurso. Uma solução que não retiraria a possibilidade de disfruto da beleza do trajeto ao longo do rio Tejo.
O mesmo PFN é omisso quanto às questões da exploração e potencialidades turísticas que esta linha encerra, assim como a inexistência de horários cadenciados na maioria dos serviços, algo que torna o modo ferroviário pouco atrativo para muitos utilizadores, sem referir os tão propalados serviços combinados num tempo em que a rodovia procura ganhar muito terreno à ferrovia, descurando, no entanto, as questões de impacto ambiental, sonegadas de forma incompreensível, ou provavelmente de forma deliberada.
Como é do conhecimento público, com a demissão do anterior governo, o Plano Ferroviário Nacional não conheceu a sua aprovação, o que equivale referir, estarmos a tempo de tudo. Assim o determine a vontade política das tutelas.