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O juiz em busca das memórias esquecidas

No Tribunal da Covilhã há uma porta, discreta, de dimensões reduzidas, na lateral de um gabinete, que permite viajar no tempo. Desde há três anos que todas as semanas José Avelino Gonçalves, 55 anos, deixa a beca pendurada no bengaleiro, veste uma bata branca, calça as luvas, protege-se da poeira com uma máscara e transporta-se para outra época.

A curiosidade, minúcia e persistência do ainda juiz presidente da Comarca de Castelo Branco permitiram resgatar da deterioração e do esquecimento no sótão do edifício mais de uma centena de processos antigos, 32 dos quais condimentados com a escrita do magistrado, inspirada em Camilo Castelo Branco, que fugiu da escrita jurídica e fria do quotidiano e os transformou em crónicas do livro “Estórias de Um Arquivo Judicial – A Grande Devassa – 1820-1920”, que abarcam um período de cem anos.

Ao longo de 85 páginas, com ilustrações da filha mais velha, Cláudia Gonçalves, de fotos e de reproduções de processos desse tempo, é feito o retrato de uma época da região, através dos assuntos, das mais diversas índoles, dirimidos no Tribunal da Covilhã. O livro é apresentado sábado, no Salão Nobre, mas a sessão de autógrafos decorre entre as 10h30 e 12h30 junto à exposição “Apontamentos Revolução Liberal 1820/ Marca d´Água nos Processos Judiciais/Alguns processos e personagens levadas ao Livro”, patente no corredor do Palácio da Justiça.

Ressuscitar histórias

Quando entrou pela primeira vez no sótão, há cerca de três anos, duas décadas depois de chegar ao Primeiro Juízo da Covilhã, José Avelino Gonçalves ficou “maravilhado” ao ver o amontoado desordenado de processos do arquivo morto, cobertos por um manto de pó, com as marcas do tempo cravadas nas páginas amarelecidas, outras esborratadas da humidade, os manuscritos com as folhas cosidas à mão e a caligrafia cuidada a esvanecer-se, os volumes misturados sem qualquer critério, data ou temática.

José Avelino viu além da camada de poeira e desorganização. O agora juiz desembargador do Tribunal da Relação de Coimbra, que desde criança sente o apelo pela história, pela arqueologia, assim que pegou no primeiro processo, sentiu ter encontrado um tesouro por explorar, desaproveitado e que importava resgatar. Com delicadeza, folheia as páginas em português arcaico. Desvia-se dos volumes que alcatifam o chão do comprido sótão, com o revestimento do telhado à vista e os tijolos descarnados a apoiar as pilhas de documentos que ameaçam tombar.

A maioria foi trazida para este espaço após o incêndio, nos anos 40, no antigo Tribunal da Covilhã, localizado no centro da cidade. Entretanto não foi possível tratar, documentar e arquivar os mais de mil processos que ali se encontram, alguns irrecuperáveis, pela acção do tempo.

(Reportagem completa na edição papel)

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