O KIT

“O país deve estar melhor preparado para situações de ignorância de quem dirige”

Podia pôr-me para aqui a escrever sobre o Kitt, o célebre carro que falava    e fez figura na televisão, dirigido por Michael Knight, a personagem interpretada por David Hasselhoff. Estava ali o futuro imediato, mas não, nada disso. Bom, podia da mesma forma lembrar Kit Jones. Lá está, um   dos primeiros norte-americanos profissionais de basquetebol a vir jogar para Portugal. Na Figueira Foz, em 1969.Vejam bem, ainda nos anos sessenta começámos a descobrir o ouro. Mas não é a este Kit que fez carreira no Sporting, que me refiro. Nem o Kit do desporto, nem o Kitt da Inteligência Artificial. Este é o KIT de que todos falam, mas ninguém conhece. Todos será um exagero, mas que milhares de sobreviventes do apagão de 29 de Abril, se auto-arrebanharam em torno da falta do misterioso equipamento, disso não há dúvidas. O facto de poucos terem tido contacto com a peça, também faz deste kit e da discussão à volta da sua importância vital, um autêntico caso de estudo.

Vamos lá ver, o país esteve um dia em coma, sem apresentar sinais vitais, por óbvia incompetência de quem o gere e tem gerido ao longo das últimas décadas, e a culpa foi do pobre do tuga, que não tinha um “kit” em casa. Ali à porta, é só pegar e levar, caso o mundo esteja a pontos de acabar. Caramba, quem é que neste gigante canteiro é capaz de viver com consciência tranquila, se não tiver o mochilão com o básico para setenta e duas horas, numa situação de catástrofe? Sim, quem?! O país das plantações de painéis solares e de quatro operadoras de internet, ficou sem perceber o que estava a fazer no mundo, os seus dirigentes entreolharam-se, sem saber o que dizer, como dizer, quando dizer, para além do que fazer, e o portuguesito, o pobre do portuguesito que faz um esforço valente para meter umas sardinhas de conserva dentro de uma carcaça, é que foi o grande culpado porque pareceu uma barata tonta à procura do garrafão da água e da lata de salsichas. Discurso oficial; “O país não está preparado para uma situação de catástrofe”. Ora toma lá que já almoçaste! Mastiga bem, e engole para uma boa digestão. Será muito difícil de entender, que a pobre malta se pôs a correr para os hipermercados e mercearias, porque ninguém lhes disse nada?! Nada! O país estava a ouvir rádio, caramba. Bastava o senhor da Protecção Civil numa peça de informação assertiva e bem elaborada comunicar que o apagão era coisa passageira, e que ao longo do dia as energias voltariam pouco a pouco, para que tudo fosse mais tranquilo. O que aconteceu é que se preferiu alimentar todo o tipo de especulações, muitas delas trazidas à tona pelas dezenas de especialistas que por todos os meios se puseram a perorar sobre as origens do acontecimento, e a perspectivar o drama, o horror, talvez até a morte. A verdade nua e crua, é que o país deve estar melhor preparado para situações de ignorância de quem dirige e de incompetência de quem governa. Deve haver kits para as combatermos. Vamos lá adquirir um exemplar!

 

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