Não há memória de uma coisa igual. E, segundo o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, este terá sido “o maior incêndio” de sempre no concelho. O princípio, foi no Sobral de São Miguel, ainda no passado fim-de-semana, e também houve chamas em São Jorge da beira. Mas depois, uma outra frente, vinda do distrito de Coimbra, do Piodão, estendeu-se a Arganil, Pampilhosa da Serra, passou pela zona de Teixeira, Seia, e entrou no concelho da Covilhã pelas Pedras Lavradas. Isto no domingo. E nunca mais parou, com diversos braços, frentes, a surgirem de todo o lado, e a deixarem em sobressalto quase todas as localidades da Corda da Serra, que em muitos casos, ficaram confinadas: Erada, Peso, Dominguiso, Paul, Ourondo, Casegas, Barco, Coutada, Tortosendo, Unhais da Serra, Cortes do Meio, Cortes de Baixo e, esta sexta-feira, a Bouça,
Na Covilhã, foi logo ativado o Plano Municipal de Emergência, algo que também acabou por acontecer no Fundão e Castelo Branco, já que o incêndio se estendeu também a estes dois concelhos, numa extensão de que não há memória na região, apenas comparável ao grande incêndio que lavrou, em 2022, na Serra da Estrela. Aliás, segundo Vítor Pereira, em declarações ao NC, ardeu mais neste incêndio no concelho da Covilhã do que em todos os municípios do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) afetados em 2022: “terão ardido já entre 25 a 30 mil hectares” assegura o autarca.
Durante esta semana, além do dispositivo da proteção civil, e dos bombeiros, ninguém se tem furtado a tentar salvar, sobretudo, os seus bens (casas têm estado constantemente ameaçadas), e em muitos casos, os populares, que têm lamentado a falta de meios, recorrem a baldes, alguidares, mangueiras do quintal, pás, enxadas ou num simples ramo ou giestas, para tentar, a todo o custo, que as chamas não lhes entrem porta adentro.
Se, durante a noite, se regista sempre alguma acalmia, logo que amanhece as condições meteorológicas acabam por se tornar favoráveis à propagação, e do meio-dia para a tarde, é sempre a altura em que as situações se tornam mais críticas. “Não há palavras para caracterizar isto” diz Vítor Pereira”, que em declarações ao 360 da RTP3 denunciou “um problema” nacional e coletivo que carece de mudança para conseguir fazer face às frentes de combate para proteger a população. “É preciso mudar, e mudar, mudar muito”, defende. O autarca diz que este é um momento “muito difícil” e que na resposta aos incêndios que assolam o País “”algo não está bem, algo está em colapso”. Vítor Pereira aponta que existem “muitas causas” para a situação dramática dos incêndios, nomeadamente a falta de meios para fazer face às frentes de combate.
O fecho de estradas municipais tem sido uma constante, no concelho covilhanense, mas também a A23, e a nacional 18, bem como a Linha da Beira Baixa, na zona da Soalheira, onde a situação também foi crítica, chegaram a estar encerradas. No concelho fundanense, esta manhã, ainda havia frentes ativas e também aqui, o autarca Paulo Fernandes, que diz que um terço do território já terá sido afetado, já criticou a falta de meios no terreno. Em Castelo Branco, depois de três dias de luta, segundo a autarquia, o fogo estará extinto.
Durante vários dias, na Cova da Beira, pairou uma nuvem de fumo, e “choveu” cinza, uma vez que também do outro lado, na zona do Sabugal e Penamacor, os incêndios andaram ativos durante vários dias, tendo ontem o fogo também chegado a Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida, onde um bombeiro de Pinhel acabou por ser colhido pelas chamas, sendo helitransportado para Coimbra, com queimaduras graves.
Recorde-se que na região, no distrito da Guarda, um ex-autarca, Carlos Dâmaso, 43 anos, faleceu quando foi colhido pelo fogo que combatia numa das suas propriedades, em Vila Franca do Dão, onde fora presidente de junta; e na Covilhã, Daniel Agrelo, bombeiro de 44 anos, também faleceu quando a viatura em que seguia se despistou, a caminho de um fogo no concelho do Fundão, na zona de Aldeia de São Francisco de Assis.