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O malogro de uma piscina

A.Pinto Pires

 

Professor

 

Numa cidade onde primava uma certa pasmaceira num quotidiano apenas entrecortado, ora pelo desporto oficializado pelo estado novo, o futebol, o hóquei em patins ou o futebol de salão, com que o CDC nos bafejaba, o lazer era algo muito distante para “as massas”, conceito advindo com a revolução de Abril. Os verões eram tempo propício para as idas para o rio, Alcaria foi praia da Covilhã, ou a serra, com a ímpar Nave de Santo António, a outra praia, esta do povo que ali acorria nos fins de semana de estio carregado de farnéis e mantas para o deleite da frescura ou da piscina das Penhas da Saúde. O espaço disputava-se ao milímetro. A serra tinha vida.

Um meteorito caiu sobre os Penedos Altos com o surgimento da piscina municipal ali implementada. A escolha do local foi excelente. Sol todo dia, uma envolvência bem pensada e as zonas de lazer envolventes, para quem quisesse disfrutar do local sem ter que ir a banhos. A piscina, como ficou conhecida, rapidamente se tornou pequena para tantos utilizadores. Aos fins de semana era por vezes impossível romper por lá.

Não era a primeira piscina da Covilhã. O Poço Grande já antes tinha exercido essas funções e teve os seus momentos de glória. Neste ponto, a Covilhã acompanhou a modernidade e as tendências regionais tal como o Fundão, Alpedrinha ou Castelo Branco.

A cidade foi crescendo e com o tal pensou-se numa outra dimensão, era a moda das piscinas praias e a Covilhã pensou em grande, quando a nova versão estava prevista para o complexo desportivo, numa dimensão que ombreasse com a de Castelo Branco, não tendo sido o caso. Um incompreensível arrepio de caminho leva a que a mesma fosse construída no jardim do lado, num espaço muito pouco adequado para o efeito e sem possibilidade de expansão.

E que fazer da piscina dos Penedos Altos? Cobre-se e transforma-se numa piscina de aprendizagem coberta. Um processo nebuloso que terá resultado de alguma teimosia apressada, ignorando pareceres técnicos que se opunham ao implante da cobertura pelo peso excessivo, não garantindo as devidas condições de segurança e estabilidade. Houve que recorrer a reforços estruturais para precaver eventuais imprevistos, assim como a cobertura apresenta problemas que se refletem em dias de chuvas intensas. Já ali se viveram situações assustadoras. Algumas das quais constatei “in loco”.

O município, dono da obra, não teve visão estrutural. A UBI crescia em dimensão, assim como a variante de desporto. Era uma aposta conseguida. Só por isso se justificava a construção de uma obra de raiz, à altura de uma cidade universitária.

A modificação da piscina dos Penedos Altos não foi um projeto conseguido. Não viria mal ao mundo que a mesma continuasse a exercer a sua função inicial, uma piscina de sol com todos os atributos já mencionados. Que ainda se reclama.

Outros problemas estruturais têm sido uma constante nos últimos anos, e continuam, e lá se vai avançando entre remendos entrecortados que vão tentando resolver pontualmente os problemas sem garantias consistentes. E com isto se prejudica toda uma comunidade, em algo que nos envergonha. Meses a fio impedidos de praticar um desporto tão importante para a saúde das populações. Se percorrermos qualquer localidade da Beira Interior, falo de vilas e cidades, muitas delas dispõem de piscinas cobertas edificadas de raiz. Aqui, a Covilhã ficou para trás.

Quem viajar pelas redes digitais, muitas das quais estão transformadas em muros de lamentação, e sempre que surge uma foto da piscina dos Penedos Altos, é enorme o coro de lamentações dispensando quaisquer outros comentários.

Exigem-se visões de futuro. Sejamos ousadas.

 

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