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O nosso jornal

“Uma das melhores sensações ao ser-se director do mais antigo jornal das Beiras, é a de me sentir ardina e poder falar com quem passa, saudar os comerciantes, perceber como desaparece o jornal”

“Eu quero quatro, são para distribuir pela vizinhança”. Aquela senhora com ar de, atrevo-me, professora reformada, sorriu, e quadruplicou a minha oferta, quando lhe preparava para entregar um exemplar do Notícias da Covilhã, naquela fria manhã, como tantas frias manhãs, tocadas pelo ar da serra, e aquecidas pelos sorrisos dos covilhanenses que aguardam pelas novas da semana. Devo confessar que uma das melhores sensações ao ser-se director do mais antigo jornal das Beiras, é a de me sentir ardina e poder falar com quem passa, saudar os comerciantes, perceber como desaparece o jornal cada vez que o deixo nos polos da universidade, e receber um caloroso “passou bem” do senhor Francisco, antigo serralheiro industrial que com bem mais de 90 anos me aguarda junto ao edifício da Câmara Municipal quase religiosamente, para que lhe possa entregar o papel com as notícias, e trocar umas quantas palavras. Na despedida; – “para a semana cá estou outra vez”. E assim o ritual semanal ganha graça, sentido e bem-estar.

Deixo na estação dos comboios. Por vezes fechada, mas hoje, aquela senhora no guichet preparada para adquirir um bilhete para o Regional, mal me vê atira sem pestanejar; “levo já um que é pró meu marido… o meu marido gosta muito deste jornal, já viu…?!” Vejo que sim, e faz muito bem, penso eu, que minutos depois me assomo à guarita do Estabelecimento Prisional; “ah vem entregar o jornalinho, não é verdade…?!, diz a guarda da prisão ao abrir a portinhola. Aqui deixo três. Logo a seguir a Segurança Social; “… a gente não tem muito vagar de ler… mas sempre dá uma vista de olhos, dê cá o jornal!”, diz a senhora, o marido “diz que sim” com a cabeça. Ahahah… rio-me para dentro. “Isto é que é luxo, só nesta cidade, isto sim é um luxo”. O jovem ao passar por mim, parou o carro, abriu o vidro e estendeu a mão para quase sem o pedir, receber o jornal… ao afastar-se ainda o ouvi…”isto é mesmo top…”. Siga!

Tinha acabado de abastecer um dos expositores do “shopping”. Com duzentos exemplares. Um casal aproxima-se, e o senhor de sorriso rasgado e braço estendido, duvida; … não me diga que sou o primeiro?!” Acabara de o ser. A receber o Notícias da Covilhã neste ponto de distribuição, onde os habitantes da cidade passam e tornam a passar, levando o jornal no “bornal”. Tal como no Centro Histórico, aonde volto mais tarde, e ouço; “quero 16 para o urbanismo”! Era aquele senhor tão simpático com quem me cruzo amiúde, e me saúda com um; ” …então como vai o nosso director”? Vou bem, pois então, graças aos covilhanenses e tantos outros “enses” da Cova da Beira que estão “devorando” o Notícias da Covilhã.

Bem hajam!

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