É frequente ouvir-se por aí; este é que vai pôr ordem nisto! “Este” é o almirante Gouveia e Melo, e “nisto” será a “bandalheira” em que o país se tornou. As pessoas que emitem esta convicção são, normalmente quem mais contribui para a sociedade-desastre, seja por nítida falta de competência profissional, seja pela inexistência de preceitos de educação, ou ainda pela incapacidade de exercerem a liberdade que lhes é proporcionada. Vou dar um exemplo; um destes dias conduzi uma viatura de uma marca, modelo e cor muito identificados com condutores tipo “uber”. Numa rua de Lisboa, na abertura do semáforo um confuso taxista impaciente por me passar à frente. Ao verde do sinal, acelerou, meteu-se numa nesga, e ao conseguir os seus intentos, passando por mim abriu o seu vidro e cuspiu, ao mesmo tempo que terá pensado; “era o que mais faltava, passares à minha frente, vai para a tua terra, porco de merda”! Ao cair da tarde, ao balcão do bar, entre umas “minis”, terá pensado de novo; “sei bem do que este país precisa”!ORDEM! É disto que Portugal precisa. A mesma ordem que é reclamada pelo líder da organização fascista, logo anti-democrática, que elegeu sessenta deputados, fruto do “entendimento” de muitos milhares de portugueses. Originários. Dos bons, portanto. É bem provável que o “nosso” condutor de táxi tenha exercido o seu voto para as legislativas nesse sentido, e que esteja a preparar-se, com o seu inestimável contributo, para meter um militar em Belém.
Olhando para a frisa decorativa que embalou a cerimónia de apresentação da candidatura do marinheiro, podemos assistir a um ror de gente bem instalada nos camarotes da política portuguesa, unidos no forte propósito de ver o almirante a agir. Muito deles saídos dos dourados exílios a que se acomodaram, ou foram votados. Também estou plenamente convencido de que enquanto Presidente da República, o senhor almirante quererá acção, do tipo dar instruções ao governo, definir políticas de intervenção. Quem sabe se no sentido de pôr o país a pegar em armas porque “o mundo mudou muito”, “vêem-se nuvens carregadas de incerteza e perigo no horizonte” e “temos” de defender a nação. Não deixa de ser sintomático e até preocupante, que gradas figuras do partido do governo, como Rio, Jardim, por exemplos, se ponham ao lado da candidatura militar, preterindo a solução apoiada pelos seus. A”vendeta” entre os sociais-democratas, tão própria do exercício do poder. Ora, condenando Marques Mendes e com uma esquerda “aos papéis”, está-se mesmo a ver no que é que isto vai dar. Só mesmo ressuscitando Soares. Peço perdão pela piada. Mas será fundamental que outros conceituados civis se cheguem à frente. Bom, até ao lavar dos cestos… e o verão há-de acabar com as eleições autárquicas, que em muitos concelhos serão boas “coboiadas “, resultarão em imensas surpresas, e darão pano para mangas. Por cá, na Covilhã, adivinha-se um animado “lavar de roupa suja”.