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“O que aí vem é muito pior do que foi o 25 de Abril”

Américo Nunes, 84 anos, ex-sindicalista/escritor, autor do livro" Conversas carregadas de história com dez sindicalistas de Abril"

Que livro é este, que apresenta agora?

São conversas que tive com dez sindicalistas de Abril, que tiveram grande atividade antes do 25 de abril, a partir de 1968. E participaram na revolução, continuando na atividade sindical até aos anos 80, 90 ou 2000. Fala sobre a luta antifascista e a evolução da atividade sindical, e do papel importante que estes homens tiveram.

Há nesse período dois marcos importantes: 25 de abril e 1º de maio…

Claro. O 1º de maio foi o 25 de Abril dos trabalhadores. Enquanto Abril foi um golpe militar progressista dos capitães, para derrubar o regime fascista e acabar com a guerra colonial, o 1º de maio foi dos trabalhadores e do povo em geral. Na Covilhã houve um acontecimento extraordinário. Decorria uma greve do setor têxtil, que reivindicava mil escudos de aumento, e que após abril passou para três mil escudos, uma verba enorme na altura. Os resultados desta greve estenderam-se ao resto do país.

Qual o impacto que, 50 anos depois, tem o movimento sindical?

Hoje, o contexto é diferente. Antes de Abril, a greve era proibida, as pessoas eram presas. Era muito difícil, mas os sindicatos tinham muita força. E após a revolução, tornaram-se quase uma autoridade. Hoje, no que toca à ação dos trabalhadores, há menos capacidade reivindicativa. Não por culpa dos sindicatos, que têm força, mas do contexto.

Como vê hoje Abril?

Com uma certa nostalgia. É natural, porque nós fizemos e vivemos o 25 de Abril. Hoje as pessoas que estão no ativo, muitas delas eram crianças. O que sabem é o que as famílias lhe contaram e aprenderam na escola, se é que lhes ensinaram. Há muito quem hoje queira deturpar Abril, que não são só valores e ideias, que têm que ser traduzidas no concreto. Na ação. Em melhor saúde, salários, férias. É sempre uma luta do gato e do rato, numa altura em que há muita pujança das forças reacionárias e fascistas. O que aí vem é muito pior do que foi o 25 de Abril.

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