O QUE É NACIONAL É “BOM”!

“E como tal, para conseguir esse desiderato, de ser nacional de Portugal, o cidadão, o indivíduo que nos vem bater à porta, deve perceber que nós somos algo único, produto exclusivo”

Andam nisto das massas e das bolachas desde 1849, mas o pregão fez furor nos anos 80, quando a fábrica da Nacional decidiu puxar dos galões para aprimorar a marca, e lembrar aos portugueses o que é isso de ser nacional. É tão bom! E como tal, sendo um produto de excelência, que é muito mais do que bom, deve ser “consumido” pelos excelentes. Ambicionado por todos. Bem…todos será um exagero, mas está enraizada na sociedade portuguesa, pelo menos na parte boa, que há muitos que querem usufruir do direito de ser nacional. Cidadão da Nação, cidadão de Portugal. Como algo à parte. Existe a raça humana, e lá dentro, um grupo genético com características especiais, únicas. E como tal, para conseguir esse desiderato, de ser nacional de Portugal, o cidadão, o indivíduo que nos vem bater à porta, deve perceber que nós somos algo único, produto exclusivo. Como as My Cookies Tradicional da Nacional, deliciosas com pepitas de chocolate. Deixei de comer, porque acabei com o glúten na minha vida. Mas sim, estava ali naquele pacote, uma bolacha única. Que é isso que nós somos no mundo. Únicos, como a última bolacha do pacote. Um Ser Superior. E foi por isso, e para isso, que governo e outros aprovaram a chamada Lei da Nacionalidade.

Para que, como tão bem caracterizou o Ministro da “Propaganda”, Leitão Amaro, “Portugal fique mais Portugal”. Já assim pensava Moreira Baptista, que durante muitos anos chefiou a propaganda do Estado Novo, era um dos melhores praticantes da ideia peregrina e salazarenta do “orgulhosamente sós”. Uma nação pobre, deprimida, ignorante, sozinha, mas como única, com muito orgulho. Antes de chegar a Ministro do Interior de Marcelo Caetano, Baptista foi durante anos, à frente do Secretariado Nacional da Informação (SNI), responsável pela propaganda política, pela comunicação social, cultura e turismo. O nacionalismo e a nacionalidade. Quando se exalta um “Portugal mais Portugal” por via da limitação do acesso à condição de natural, e se condicionam as motivações de integração, o espectro do regresso de uma nação feita apenas de nativos, é sangue que corre nas veias dos novos apoiantes de… digamos, uma democracia controlada. Em apenas duas semanas, “criamos regras” para desmobilizar muitos dos que ambicionavam fazer desta a sua casa, e pusemo-nos ao dispor para aceitar a ideia de uma comunicação totalmente controlada pelo Estado, por via de uma central integrada na Secretaria-Geral, que tantos adeptos tem entre os líderes políticos, e que dispensaria outros mensageiros, como jornalistas, que obviamente ao escrutinar se tornam muito incomodativos. E desse modo, por exemplo, abrirá portas à criação da figura de “Ministro-Influencer”, que em jeito de “Conversa em Família” na rede social mais conveniente, nos dirá como é tão bom ser Nacional. Ser do bom Portugal.

 

 

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