É morosa a subida da encosta onde se espraia a Covilhã. Os declives acentuados obrigaram a que as estradas tivessem trajectos sinuosos para diminuir a pendente, alongando as distâncias entre os patamares da cidade. É uma inevitabilidade da singular localização da nossa urbe na montanha que a molda. O que já não será inevitável é a quantidade de semáforos com que nos deparamos se queremos chegar ao Pelourinho e zona alta da cidade, que podem fazer acrescentar alguns minutos ao percurso automóvel, fazendo-nos questionar se será mesmo necessário ir lá acima…
Alguns destes semáforos são fundamentais, como os que regulam cruzamentos com muito limitada visibilidade ou os que permitem a passagem segura e prioritária de peões, desde que sejam activados pelos próprios (contrastando com os que fazem parar o trânsito ciclicamente de modo tantas vezes inútil, como os localizados em frente ao Hospital ou ao Serra Shopping). Outros exemplos há bastante questionáveis.
Dizia-me um amigo que viveu em Lisboa que há lá um semáforo que era conotado como o mais lento do país, tal era a demora a que sujeitava os que o cruzavam. Mas depois de ter trabalhado temporariamente no nosso burgo, concluiu que um semáforo covilhanense, o localizado no cruzamento da rua Marquês de Ávila e Bolama (MAB) com a Visconde da Coriscada, consegue ser pior que o da capital!
Trata-se de um cruzamento nevrálgico na cidade, onde converge inevitavelmente grande parte do trânsito entre as zonas baixa e alta da cidade, em direcção ao centro cívico ou à muito procurada subida à Serra. A experiência automobilística mais comum neste local é apanharmos um sinal vermelho de longa duração, parecendo que das outras direcções do cruzamento poucos carros passam, e que a maioria está retida também, à espera do breve sinal verde.
Multipliquemos este tempo de espera pelos milhares de veículos que passarão neste cruzamento diariamente. A consequência não é apenas perda de tempo (esse bem tão precioso), poderá ser também saúde perdida. É que a emissão de gases poluentes não pára na maioria dos veículos a combustão (nos que não tiverem activo o sistema start-stop), gerando altas concentrações locais de nanopartículas tóxicas. Estas são inaladas tanto pelos passageiros do automóvel, como pelos transeuntes, contribuindo para doenças respiratórias e coronárias. Só na União Europeia, estima-se em meio milhão as mortes prematuras provocadas por este tipo de poluição (dez vezes mais que os óbitos por acidentes de viação).
A quem queira confirmar o impacto, sugiro um passeio a pé, nas horas de maior trânsito à tarde, na rua MAB entre a Garagem de S. João e o referido cruzamento, onde o semáforo em questão costuma garantir atrás dele uma fila de carros e autocarros libertando uma sauna de gases de tubo de escape, que ali fica contida, entre as altas paredes desta rua enegrecida.
Então e qual seria a alternativa ao lento semáforo? Este poderia ser bem substituído por uma rotunda. Há espaço e visibilidade suficiente para ela na encruzilhada, e o único perigo potencial – a velocidade excessiva de quem desce a Visconde da Coriscada – poderia ser resolvido pela adaptação do semáforo existente na descida para um semáforo limitador de velocidade a 30 km/h.
Durante alguns anos vivi em Viseu, a cidade das rotundas, e pude constatar a enorme fluidez que estas proporcionam ao trânsito, facilitando as deslocações do dia-a-dia. Esta cidade da Beira Alta tem, a vários outros níveis, pontos fortes no planeamento urbano que se traduzem em boa qualidade de vida dos cidadãos – destacando-se o espaçamento suficiente entre os edifícios, uma boa quantidade de parques e espaços verdes, e o respeito pela conservação de árvores na cidade. Um bom exemplo do que, afinal, pode ser feito numa cidade no interior do país.
Saibamos não ficar parados no sinal vermelho.