Quem não se lembra do papel dos “Gato”?! Qual papel? O papel! Ah…ok. O papel! Como expoente máximo de um país em que a burocracia continua a marcar os nossos dias, e a fazer das suas. Bom, na verdade as coisas mudaram. Muito. Não que o país tenha deixado de ter essa marca, nada disso, o que aconteceu foi que a mesma burocracia subiu de nível. Deu-se uma espécie de “upgrade”, um palavrão de moda, e que significa tão só actualização. Sim, não se trata de mudar tudo, nada disso, bem pelo contrário… é apenas uma nova versão do produto. Chamemos, pois, produto à burocracia, porque realmente deve ser o que melhor produzimos em Portugal. Burocracia. Que há muito abandonou o papel, para, sinais dos tempos, passar a chamar-se de “sistema”. Nem mais. A culpa é do sistema.
Por estes dias, há uns meses escreva-se, recorri ao “Sistema” Nacional de Saúde para marcar uma consulta na “minha médica de família”. E assim foi. Ficou marcada para dois meses depois. Coisa pouca. É o sistema a funcionar. Quando chegou o momento, consultei o sistema, e percebi que a tal consulta tinha sido cancelada. Tentei perceber a razão. A médica, que entretanto o sistema me tinha atribuído, reformou-se. Lá está! Mais, quando marquei a consulta já a senhora estava de pantufas em casa. Perguntei, pedi uma justificação. Resposta; foi o sistema. Faz sentido. Na sequência pediram-me duas semanas para me ser destinada nova clínica. Passou o tempo, e lá fui marcar nova consulta. A mesma senhora que estava no mesmo guichet, confirmou a atribuição da doutora fulana “muito simpática e atenciosa por sinal”, mas que estava de férias. De férias?! – indignei-me – então há duas semanas ainda não estava, vinha de fora, e agora está de férias?! Pois- respondeu a diligente senhora- quando entrou ainda tinha as férias para gozar. A gozar estão vocês comigo, pensei eu, alto e de bom tom. Quando pretendi uma justificação para o que me parece um rés-vés absurdo, ouvi; O que quer, é o sistema!? Saí meio furioso, meio conformado com a consulta marcada para de hoje a um mês e meio, e dirigi-me aos CTT, para “deitar” uma carta. Duas senhoras a atender, dezenas de pessoas em fila de espera, e o dispensador de senhas avariado. Alguns minutos mais tarde; -“Pois, temos o sistema em baixo… e a carta, é em correio normal ou “registrado”? Viva o sistema!