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O SOPRO

“Uma boa RTP faz muita falta. É isso, uma boa RTP. Elegante, forte, dinâmica e criativa. Não é da sua morte nem da sua privatização que precisamos”

O primeiro-ministro quer um jornalismo tranquilo. Se possível que não chateie muito. De preferência que não faça perguntas. Lá está, torna-se aborrecido ter de responder, olhar para a esquerda, ah… perdão, olhar para a direita, e só ver câmeras de televisão apontadas

a si mesmo. Calma, senhor Presidente do Conselho, não são G-3´s, é apenas a rapaziada que vai consigo para todo o lado, e de quando em vez gosta de meter conversa. Num tom mais informal claro, para evitar o tão maçudo e habitual discurso institucional. Aliás, quem hoje o seguir com atenção, perceberá que o doutor Luís está em todo lado, com a lição bem estudada. Eu sei, “se assim é – pensará o senhor primeiro-ministro – por que carga d´água quererá o povo que me façam perguntas”?! Lembro-me tão bem. Como se fosse hoje.  A entrada fulgurante de Almerindo Marques, levado pela mão por Morais Sarmento, o ministro do Plano. Do plano de destruição da RTP. E se bem o pensaram, melhor o fizeram. Bom, não se pode dizer que a televisão pública não exista, porque se assim fosse o governo não a quereria para nada. Existe pouco, vamos lá, mas o suficiente para que mais uma vez lhe queiram deitar a mão. É isto.

E isto não é nada contra o partido que sustenta o governo, é contra esta obsessão pelo controlo da informação, pela tamanha vontade de criar o Serviço Governamental de Televisão, embrulhada na ideia de uma melhor prestação pública. Não bate certo. Do mesmo modo reforça, por via das empresas, o bolo publicitário a distribuir pelos canais privados, abrindo caminho para a irrelevância da RTP, para a sua ausência. A Impresa tem umas quantas SIC´s, A Media Capital, dona da TVI, vai pelo mesmo caminho, e o grupo Media Livre, ambiciona, ainda que de forma mais popularucha, ser como eles. Todos juntos pensaram “O Futuro dos Media”, e chamaram o líder do governo de Portugal para lhes ler o pensamento. Acertaram na muche. Aí está de novo um plano. Mas desta vez traz um brinde generoso, como se fosse um bolo-rei da Pastelaria Visconde de Coimbra. Os brindes dos bolos-rei já não são os mesmos, e os planos não são tão ingénuos assim. Sabe uma coisa? Vou soprar-lhe ao ouvido, porque julgo que se mune de um auricular; uma boa RTP faz muita falta. É isso, uma boa RTP. Elegante, forte, dinâmica e criativa. Não é da sua morte nem da sua privatização que precisamos. Bom, quanto às críticas aos jornalistas… é verdade, ficamos um pouco amuados, mas escolheu mal os exemplos. Até posso perceber a ideia de que muitos não honram a profissão, alguns até andam por aí, por esses gabinetes, mas caramba, olhe que o senhor também revelou algum desconhecimento, e não é por aí que lá vamos.

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