Foi com os colegas alinhados em formatura, ao som da sirene, e sob forte emoção a tomar conta de familiares e amigos, que nesta manhã de terça-feira, 19, Daniel Agrelo, 44 anos, bombeiro da corporação da Covilhã, disse adeus ao quartel, numa última despedida após a missa que decorreu no salão nobre da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Covilhã (AHBVC), antes do corpo ser levado para o cemitério do Peso, de onde Daniel era natural.
O motorista da corporação faleceu no passado domingo, ao fim da tarde, na zona de Aldeia de São Francisco de Assis, quando a viatura em que seguia para um incêndio no concelho do Fundão se despistou, caindo numa ribanceira. Além de Daniel, seguiam mais quatro soldados da paz, com um a ficar gravemente ferido, mas já estável depois de ter sido operado nos hospitais da Universidade de Coimbra. Daniel Agrelo deixa esposa e filho.
No funeral do bombeiro covilhanense esteve o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral. O líder do Governo, que não falou, ainda ouviu alguma contestação de populares que o criticaram pelo fraco apoio dado aos soldados da paz, numa altura em que Portugal enfrenta, há duas semanas, incêndios de grande dimensão.
Na véspera, no velório, também no quartel dos bombeiros da Covilhã, esteve o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que disse ter como regra não estar no terreno no combate aos incêndios, mas ir sempre aos funerais de bombeiros. “Aos funerais de bombeiros ou vítimas nunca faltei e nunca faltarei, enquanto for Presidente e depois de deixar de ser Presidente”, assegurou o chefe de Estado à RTP. No caso de Daniel, Marcelo disse conhecer pessoalmente o soldado da paz, de uma última visita que efetuou à Covilhã. Segundo ele, “excecional como bombeiro e como funcionário ao serviço da comunidade e associação”.
As reações à morte do bombeiro covilhanense têm-se seguido. O presidente da Câmara da Covilhã, e também presidente da Assembleia Geral da Associação Humanitária, Vítor Pereira, que recebeu Marcelo Rebelo de Sousa ontem, disse à RCB que o concelho chora a “partida prematura” de Daniel Agrelo. Já o presidente da AHBVC, Joaquim Matias, disse que Deus “levou um herói”.
Em comunicado, o ministério da Administração Interna lamentou este “momento trágico” e também a Câmara da Covilhã mostrou “profunda consternação e pesar” pelo falecimento do bombeiro, decretando três dias de luto municipal, desde ontem, segunda-feira.
Dos mais variados quadrantes tem surgido pesar pela morte do soldado da paz. A União de Freguesias de Covilhã e Canhoso afirma que a notícia da morte de Daniel Agrelo deixa “toda a comunidade em luto e recorda-nos a coragem e o espírito de sacrifício daqueles que, diariamente, arriscam tudo para proteger vidas humanas, habitações, florestas e o nosso território.” “Que a sua dedicação e sacrifício não sejam esquecidos e que o seu exemplo inspire em todos nós um renovado compromisso com a proteção da vida e da comunidade”, salienta.
Também o STAL lamenta profundamente o “trágico falecimento” de Daniel Agrelo, que era seu associado. “A morte de um amigo, de um camarada é muito difícil, e de um bombeiro no cumprimento da sua nobre, difícil e benévola missão é ainda mais dolorosa” salienta, mostrando reconhecimento e solidariedade “que são devidas a estes homens e a estas mulheres que diariamente arriscam a vida em defesa da comunidade com coragem e abnegação.”