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“O voto de protesto deve ser numa mudança segura”

Liliana Reis, natural e residente no Fundão, tem 43 anos e é professora universitária. Encabeça a lista da Aliança Democrática (AD), coligação que junta o PSD, CDS e PPM, pelo distrito

O seu nome não era o mais evidente e terá provocado alguma surpresa. Por que acha que recaiu em si a escolha para encabeçar a lista da AD?

 

Até a mim me surpreendeu. O presidente do PSD poderá responder melhor a essa questão. Creio que a escolha se prendeu com o facto de eu ser do distrito, mas, sobretudo, eu ter sido durante muitos anos uma voz muito ativa pela defesa dos interesses desta região e da proteção daqueles que aqui vivem. Por exemplo, a propósito do Manifesto Pelo Interior, fui muito vocal em relação às medidas discricionárias para aqueles que escolhessem o interior para viver e ter dito: e então e aqueles que vivem cá? Talvez tenha sido com base numa perceção de quem tinha essa capacidade de defender o território e as próprias gentes, porque sempre o fiz e do ponto de vista até da sociedade civil.

 

De uma forma sintética, quem é Liliana Reis? 

Sou uma mulher absolutamente livre. Eu digo sempre o que penso. Defendo sempre aquilo em que acredito, com total liberdade, porque se algum dia comprometesse essa liberdade, eu deixaria de ser a mulher que sou. Nós não podemos comprometer aquilo que são os nossos quadros ideológicos e aquilo que são os nossos valores.

 

Quais são as prioridades da sua candidatura?  

 

Primeiro, a excelência ao nível da competitividade.  Nós tornámo-nos uma região pouco atrativa do ponto de vista do investimento e empresarial, primeiro por causa dos custos de contexto, como as portagens, mas temos outros e hoje as empresas e as pessoas, para se fixarem no Interior, implica quase um compromisso missionário muito maior do que em outra parte do território. Este desafio da competitividade tem necessariamente atrelado o choque fiscal. As empresas e as famílias em Portugal vivem completamente estranguladas pela carga fiscal que pagam.

 

 

Estamos a falar de medidas de discriminação positiva? 

O nosso território tem sido tratado de forma diferenciada do ponto de vista também fiscal. Quando olhamos para a Região Autónoma da Madeira, dos Açores. Eu acho que, neste momento, o Interior deve ter presente a possibilidade de, do ponto de vista do processo legislativo, alertar para a necessidade de essa discricionariedade também abranger os territórios de baixa densidade, como aquele em que nós vivemos, porque sem isso também não há competitividade nem se conseguem atrair pessoas. Depois, a excelência territorial. Nós temos um território que tem apostado em vários ‘clusters’. Parece-me que nós só conseguimos atrelar com a excelência na competitividade a excelência territorial e a modernidade também cultural que nós temos. Conseguirmos acomodar a atenção à diversidade, mas também projetá-la não apenas a nível nacional, como a nível global.

 

Há mais alguma medida estrutural que considere fundamental? 

A nível da educação, temos de reposicionar a escola. Criar maior exigência e olhar também para o tecido escolar aqui do nosso distrito. Há meninos e meninas que procuram as nossas escolas e que vêm de realidades completamente diferentes. Os professores confrontam-se com dificuldades linguísticas, com necessidades sociais de muitas famílias monoparentais. Estas escolas têm de ter respostas específicas. Se nós perdermos o desafio da inclusão, nós levamos a uma crispação ainda maior da sociedade. Foi exatamente pela polarização da sociedade portuguesa que eu aceitei este desafio, porque percebi que era um momento em que a democracia, nós, estamos a enfrentar constrangimentos tão grandes que não nos podemos furtar de participar.

 

A perda de população no distrito tem sido uma evidência. Que medidas defende para combater a desertificação? 

Nós só conseguimos manter as pessoas se tivermos empresas. Falei da questão fiscal, reduzir as tabelas de IRS até ao oitavo escalão e reduzir o IRC. Outra questão é a transferência de conhecimento para incubadoras. Nós temos tido algum sucesso, mas não o suficiente. Não tem sido por medidas do Governo, mas, sobretudo, pela iniciativa de muitos empreendedores. Muitas empresas não se fixam por causa dos tais custos de contexto. Isto é um círculo penoso.

 

Mas como é que se pode criar emprego qualificado além dessa transferência de conhecimento? 

O emprego qualificado já existe. A questão é como é que nós o mantemos cá. Nós não conseguimos manter os nossos jovens cá se eles não conseguirem sonhar. O ordenado mínimo consegue-se por decreto, mas o ordenado médio não se consegue por decreto. A expectativa de 1750 euros da AD é com o crescimento económico sustentado. Esperamos, pelo choque fiscal, levar mais empresas a investir. As autarquias também têm de perceber que não é com o IMI no máximo que conseguem captar pessoas. E quando falo do IMI, falo da Derrama. Há aqui vários impostos que têm de ser articulados, quer a nível local, quer a nível nacional, com vista à perceção de que é bom viver no Interior, investir no Interior.

 

Esse choque fiscal vai resolver?

Vai mitigar grande parte dos problemas ao nível do investimento privado.

 

Ao contrário do presidente do PSD, disse ser a favor da reposição das SCUT e não hesitar em votar contra a vontade do partido. Esse assunto foi discutido?

 

Não, mas eu sou assim, absolutamente livre. Só o voto no Orçamento do Estado é obrigatório. A partir do momento em que eu dou a minha cara, eu não minto às pessoas. Nessa matéria eu sou muito clara: eu não vou, a não ser que haja disciplina de voto, votar favoravelmente o que eu sei que prejudica o meu distrito, e falo em relação a portagens, mas em qualquer matéria. Um dos principais custos de contexto do Interior são as portagens. Se o PS tem tanto excedente orçamental, porque não reverteu? Neste contexto, introduziram a eliminação das portagens porque é uma medida eleitoralista, para ganhar votos.

 

Pede-se uma mudança, mas há quem diga não notar diferenças substanciais entre os eleitos ao longo dos anos pelo distrito. Em que acha que pode fazer diferente? 

Há uma frustração por parte dos eleitores do nosso distrito em várias questões. O PSD não teve responsabilidades governativas nos últimos oito anos e a AD apresenta-se a estas eleições com um programa muito diferente do PS. As pessoas têm de perceber que o voto de protesto deve ser numa mudança segura, para propostas diferentes, que ponham a região no caminho do crescimento. Não há possibilidade de colagem entre ambos. O que eu acho que farei diferente é talvez essa minha liberdade, que me vai sempre definir. Eu quero também que nós sejamos muito mais ativos a nível do nosso distrito, mobilizar as pessoas para responderem sobre aquilo que são os seus desejos para as suas terras.

 

Imagina-se na AR num cenário de entendimento com um partido alicerçado num discurso xenófobo, de desvalorização das minorias? 

Não, não, nunca. Aliás, isso falei com o presidente do meu partido. Não há qualquer tipo de entendimento. Isso é uma linha completamente vermelha, não há aqui alaranjado. Luís Montenegro já disse que não é não. Para mim, a questão dos direitos humanos é fundamental.

Parece-me que nós vivemos num momento ímpar da nossa democracia. Não é possível haver uma ponte com partidos que têm inscrito no programa a castração química, por exemplo, ou que defendem a prisão perpétua. Isso é um retrocesso civilizacional enorme. Eu quero uma mudança de Governo, não quero seguramente uma mudança de regime.

 Quantitativamente, quais são as expectativas para 10 de março? 

Sendo realista, ter dois deputados. Não considero impossível que nós consigamos o terceiro deputado, mas, de uma forma cautelosa e prudente, ganhar um deputado seria uma vitória. Eu darei o corpo às balas por todos aqui do distrito, sempre pela democracia e pela defesa dos direitos, liberdades e garantias fundamentais. Teremos a força suficiente para celebrarmos estes 50 anos [do 25 de Abril] com a aquilo que a responsabilidade de uma democracia nos exige e o sonho nos permitirá sempre.

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