Longe de mim o incómodo pela sua vitória. Bom… talvez um pouco. Ou de como posso continuar a acreditar numa das mais importantes democracias do mundo, acolhendo com naturalidade a ideia de como alguém acusado por atentados contra a própria democracia, possa ser eleito. Democraticamente. Aflige-me olhar em redor, e perceber como eles brotam por aí, tendo como plantação, terras aradas pela liberdade, pelos direitos humanos, pela ética, pela equidade. O que me preocupa é a forma como estamos a adubar essas sementeiras. Se lançamos à terra fraternidade para que a planta cresça livremente, e o fruto que colhemos é autoritarismo, arrogância, poder ilimitado, como podemos estar satisfeitos com a vida que levamos, com a “apanha” que fazemos. Algo que não deveríamos estar preparados para receber. Este sim, é um fruto proibido. Incomoda-me ver a imensidão dos campos de cultivo, e sentir de que numa próxima colheita, seremos bafejados por novos “embriões” de ditadores. Como trepadeiras desgovernadas. Será da degradação dos solos? Estão contaminados, qual a origem desta erosão? O facto é que permitimos que tudo aconteça, nos outrora tão férteis hectares de uma terra que deveria ter prometido respeito, inclusão, justiça e solidariedade. Tornámo-nos uns desleixados, não tratamos das nesgas de terreno de que nos propusemos cuidar, e eis-nos a colher duvidosas tempestades que nos irão afectar. Parece que nos estou a ver no meio do campo, sem mãos a medir no combate às pragas que assolam as nossas colheitas. E os indesejados organismos crescem por mimetismo, mesmo em terras que pareciam limpas, imunes a qualquer tipo de mancha.
Chega de olhar para eles com o habitual conformismo democrático, como se estivéssemos em pé de igualdade. É mentira. Acordemos e mantenhamo-nos despertos. “stay woke”. Não há como errar. Temos de “virar o feitiço contra o feiticeiro”. Não os podemos deixar crescer. Antes que eles nos limpem a nós. Estamos a dar uma mão à propagação de uma corja de pirómanos sociais. Não podemos continuar a praticar esta indiferença. Em Portugal, na Europa. Se não conseguimos formar fortes lideranças democráticas, então unamo-nos, sejamos solidários, lutemos, façamos das aparentes fragilidades por que passam as democracias, as nossas maiores forças, e avancemos para a criação de um antídoto contra quem nos quer minar os campos. Os campos da Liberdade.