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Os bons ventos de Espanha

Recuemos 22 anos atrás. Na Covilhã, o NC noticiava a 7 de Abril desse ano que, dias antes, o Pelourinho tinha sido palco de um buzinão, extensivo a outros locais da região, contra o aumento dos combustíveis. Nessa altura, há mais de duas décadas atrás, a gasolina 95 passara a custar 178 escudos (0,86 cêntimos), em vez de 161, a gasolina 98 passara de 169 para 186 escudos (0,93 cêntimos) e o gasóleo de 110 para 125 escudos (0,62 cêntimos). E já então, o povo acusava o Governo de aplicar impostos a mais quando o preço do barril não era assim tão elevado que justificasse estes aumentos.

Volvidos 22 anos, a saga continua, mas sem grandes protestos, como se a guerra na Ucrânia, a pandemia e outras coisas que tal fossem a causa e cerne de tudo, pelo que, o preço hoje praticado até se consideraria “normal”. Mas não é.

O Governo, há já algum tempo, tem optado por adoptar algumas medidas para mitigar este fenómeno (aumento dos combustíveis), que afecta a vida profissional, pessoal e social de todos, e tem enorme peso na economia, com naturais reflexos naqueles que são sempre os que pagam tudo: os consumidores. Foi o Autovaucher, prolongado até Abril, que reembolsa agora 20 euros mensais, uma pequena descida desta semana (na ordem dos 12 cêntimos no gasóleo e na gasolina), que nem por sombras combate os cerca de 40 cêntimos de subida verificados, no total, em duas semanas consecutivas de Março, e até um desconto temporário do ISP na ordem dos 4,7 cêntimos (gasóleo) e 3,7 (gasolina). Porém, apesar de boas, são medidas curtas para o que hoje é o custo de vida da população, em especial em zonas de baixa densidade demográfica, onde os rendimentos são baixos e o poder de compra se situa bem abaixo da média nacional.

Na segunda-feira (dia de uma descida anunciada), era possível ver em qualquer posto de abastecimento preços do gasóleo a 1,92 até 1,97 cêntimos (se fosse há 22 anos atrás, entre 384 e 394 escudos), e gasolina ainda acima dos dois euros (400 escuditos). Ou seja, quando há uns anos atrás, 20 euros davam quase para 20 litros, hoje não dão quase para 10 (o ponteiro nem mexe, na maioria dos automóveis). Mas os quilómetros a percorrer para o trabalho, diariamente, são os mesmos. E, numa região em que os transportes públicos são poucos e raros, em que a alternativa ao automóvel é exígua, muito mais se sente este custo de vida.

Daí que, em regiões transfronteiriças (e hoje a causa principal é mesmo o combustível), em que sempre se fizeram compras em Espanha (muitas vezes ia-se lá à carne, lembro, na minha meninice), hoje cada vez mais pessoas atravessem a fronteira. E não, não é um preço parecido ou igual, apesar de muitos aqui o defenderem (frequentemente quem mama da máquina do Estado).

Em Espanha, de onde dizem que não chegam nem bons ventos, nem bons casamentos, o Governo aprovou (e isso sim, é uma medida), como forma de atenuar o impacto dos combustíveis nos bolsos dos consumidores, que as estações de serviço, desde a passada sexta-feira, aplicassem um desconto de pelo menos 20 cêntimos por litro aos clientes. O desconto foi aplicado em todas as 11.650 estações de serviço de todo o País e estará em vigor, em princípio, até 30 de Junho. Desses 20 cêntimos, 15 são dados pelo Estado e 5 pelas estações de serviço.

Quer isto dizer que em alguns locais, onde já havia diferenças significativas em relação a Portugal, o preço do litro de combustível pode ser muito inferior ao que se pratica cá. É que já era mais barato (havia diferenças entre 14 a 20 cêntimos consoante a gasolineira), a que se juntam agora mais 20. Pelo que, quem lá vai, não desperdiça. Tal como um colega meu, que morando na Guarda, sábado, foi ver o filho jogar futebol a Vilar Formoso e deu ali um pulo à Galp de Fuentes. E meteu gasóleo a 1,63 cêntimos, “menos 40 cêntimos” que onde o costuma fazer por cá. “É uma diferença insignificante” diz com ironia. Também acho! Ah… e com a particularidade de até ser combustível luso…

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