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Os meus vizinhos

O meu vizinho é meu inimigo. Estava eu, muito confortável comigo próprio no apartamento onde resido há anos, quando de um dia para o outro, pressenti movimentos, sons e outras coisas, na casa do lado que pareceu inabitada por uma longa temporada. Ou seja, passou alguém a morar no mesmo piso. Dei por mim a pensar; que diacho, esta gente não tinha outro sítio para se mudar, logo paredes meias com o meu sossego?! A partir daquele momento declarei guerra a todos quantos cabiam naquela família, que decididamente vieram para me atazanar o juízo. Quando escrevo guerra, trata-se de um abuso de linguagem, não passei a atirar batatas contra a porta do ladrão que me roubou a paz, nem provoquei a queda de sua sogra pelas escadas abaixo. Nada disso. A minha interpretação de terrorista, não passou de uma acção vincada na ignorância. Faço de conta que essa gente maldita não existe, e se por acaso algum deles se cruzar comigo, deito-lhe um olhar de indiferença. E se por outro acaso, algum deles tenta comunicar comigo, finjo não perceber e viro as costas. Eu lá quero contactos com pessoas?! A pessoa é insuportável, existe para complicar a vida dos outros, é um ser vaidoso, sem escrúpulos, egoísta e hipócrita. Capaz de, por dá cá aquela palha, provocar um ambiente insustentável por via de invasões sistemáticas do espaço alheio, ao ponto de avançar para a guerra.

Guerra de verdade. Essa é a nossa realidade. Guerra a valer. Em permanência. Sou incapaz de hastear a bandeira de Israel. Em qualquer circunstância. Mesmo no momento em que os terroristas do Hamas chacinam parte do seu povo. Como não consigo vislumbrar virtudes nas mãos sujas da Palestina. Penso naquelas mulheres e crianças inocentes que morrem às mãos daqueles bandidos armados, penso sim. O estado de guerra permanente existe para fazer vítimas, para causar sofrimento, terror e morte. É criado por pessoas, a quem chamamos de seres humanos, mas que no fundo tratam-se de irracionais, protagonistas de uma brutal e dura realidade que é o mundo da intolerância, que mata inocentes por ódio, que vive do sangue que escorre pelas ruas dos nossos territórios, sejam constante ou periodicamente ocupados. A Palestina não é o Hamas, que faz da morte o caminho até Alá, do mesmo modo Nethanyau não representa o povo judeu, vítima da sua própria nação que exerce terrorismo de Estado. Estes não são os vizinhos do prédio que se ignoram junto aos elevadores. Não! Estes são gente maldita que usa as armas para calar o vizinho.

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