Suscitei o ressuscitar de Soares, desejei uma forte candidatura civil, de alguém que pudesse e soubesse alargar o debate tão endireitado, e que pusesse em sentido a desorientada esquerda. O senhor de farda está tão convencido do passeio triunfal até Belém, de que a própria conjuntura lhe estende a passadeira, de que a direita está no papo, que se estava naturalmente a preparar para passar a mão pelo sector que fazendo jus ao labirinto em que se meteu, não tinha candidato. A esquerda em convulsão. Ora aí está, o que o centro-esquerda precisava para se unir em torno de alguém, e disputar a eleição para Presidente da República. Por estes dias, ouvi na rádio TSF, uma comentadora política sugerir que António José Seguro não reúne consenso algum junto dos veneráveis do PS. Bem pelo contrário. Os veneráveis do PS?! Indigno-me. Mas isso é o quê? Será por certo uma força de expressão, há muito que o Partido Socialista não tem essas figuras. Uns morreram mesmo, e outros estando vivos, são fantasmas políticos. Um dos grandes problemas do partido é que apenas se entreolha. Os seus dirigentes olham uns para os outros, esqueceram-se completamente do legado que outro Partido Socialista, que não este, deixou à democracia portuguesa. Os grandes socialistas são os militantes de base, os apoiantes, e os que ao longo dos cinquenta anos de regime, têm colocado as fichas numa aposta que chegou a ser certeira. Por isso é bom que se deixem de alimentar egos, de joguinhos de poder, e se foquem no que verdadeiramente importa. Eleger um bom Presidente da República que dignifique a imagem do país. Nem que seja como Cunhal pediu aos militantes do PCP quando se tratou de eleger um presidente à esquerda. “Vamos ter de engolir um sapo. Se for preciso, tapem a cara (de Soares) com uma mão e votem com a outra”. Caramba, neste caso não é bem a mesma coisa.
Porque deve Seguro candidatar-se? Uma das boas razões, é que ao contrário do que sugerem os “veneráveis” – entenda-se os seguidores de Costa – é um movimento que pode unir o partido. Portanto é o que se deve pedir aos “veneráveis” do PS. Que tratem dessa união. É quase um imperativo de consciência. Seguro foi secretário-geral e deputado em Portugal e na Europa. Outra das boas razões, mesmo a melhor, é que a candidatura de António José Seguro é, até mesmo por algum desconforto que causa no Largo do Rato, suprapartidária. Estou convicto de que este propósito é válido para uma grande fatia da sociedade portuguesa. Seguro pode trabalhar uma candidatura na diversidade, e unir diferentes sectores sociais. O beirão de Penamacor tem naturais condições para suscitar apoios e seguidores no país que vota, que elege. É alguém com fortes convicções, honesto, comunica bem, não tem telhados de vidro, e sobretudo é independente. Característica que deixou bem vincada ao logo dos últimos anos, e que naturalmente incomoda sobretudo quem anda na vida a pensar com a cabeça dos outros. Tem um perfil de moderação, é ponderado e conciliador.