País sem Glória

Duas notícias para Carlos Moedas.
Uma é que só há erros humanos. Outra é que é dele a responsabilidade política. Toda dele. Todinha. Mas isso parece indiscutível. Vamos lá ver. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa é, para todos os efeitos, quem mantém confiança na administração de uma empresa que o Município administra. Que deverá ter sido nomeada, não por competências ao nível da mecânica de elevadores, mas por incontestável capacidade de gestão no sector dos transportes.  Está-se mesmo a ver. Outra coisa na mesma senda, é que se a administração (não) administra, é a quem devemos pedir meças por um assunto que lhes diz respeito. Está sobre a sua tutela. Ora como o tema é a gestão de um equipamento de mobilidade pública, logo no seu domínio. Não era uma torradeira caseira que em princípio só causará danos ao utilizador que permitindo o descabelar dos fios morreu electrocutado ao tentar tirar uma torrada munido de um garfo. Este aparelho existia para transportar pessoas. Muitas pessoas. A cada dia que passava mais pessoas. Portugueses e estrangeiros. Trabalhadores, estudantes, locais e turistas. Que quer estejam a trabalhar ou a passear, devem exigir fazê-lo em segurança. Se não estão seguros, se não podem confiar no transporte que utilizam, esse equipamento não pode estar a funcionar. E como lhe tinha sido atribuído o estatuto de Monumento Nacional, deveria estar estacionado onde durante tantos se moveu. E dessa forma seria apenas um local de visita facultativa. Com um guia que diariamente contava as histórias que marcaram o seu funcionamento e ajudava os interessados a interpretar um cartaz que avisava; “Este elevador inaugurado em1885 parou em tal data “assim assim”, porque os responsáveis por ele não foram capazes de o manter em funcionamento”. Esperando que dessa forma, parado, o móvel não causasse vítimas graves. Que não matasse inocentes que só queriam desfrutar da vida. Afinal, tal como todos nós, incluindo os administradores municipais.

Ora havendo responsabilidade política e operacional, resta determinar as causas técnicas. O acidente não se deu por obra e graça do Divino Espírito Santo. Se existia manutenção, e era alvo de vistorias diárias, alguma coisa não bate certo. É aí que todos deveremos querer chegar. Uma exigência natural. Se duvidarmos do apuramento da verdade, e não confiarmos nos meios que temos como forma de elevar a qualidade das nossas vidas, então não estamos em condições de oferecer um país seguro. A quem cá vive, e a quem nos visita. Se a massificação do turismo pode estar a matar Lisboa, nós, lisboetas, portugueses de todo o país, estamos a matar-nos. Infeliz e literalmente. Daqui a alguns anos, muito provavelmente haverá gente que dirá que o princípio do fim dos dourados anos do turismo na capital, foi a Tragédia do Elevador da Glória.

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