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Paixão pelo vinil

Ouve música em casa, no carro, no trabalho, até durante a noite, enquanto dorme. Carlos Afonso, de 55 anos, é um melómano. O primeiro disco foi-lhe oferecido pelo padrinho. Era “Jazz”, dos Queen. A partir daí, não parou de coleccionar e soma cerca de cinco mil exemplares.

Durante uma década residiu na Holanda, onde era condutor de máquinas e manobrador de gruas. Regressou há seis anos, quando a construção estava parada e não havia trabalho no seu sector. “Por brincadeira” começou a dedicar-se à compra e venda de vinis usados e a ir a feiras de velharias, como as que existiam em grande número e frequentava no país onde esteve emigrado. Da paixão pela audiofilia, um passatempo, fez o seu modo de vida.

Enquanto carrega a furgoneta com centenas de vinis, não os que tem em casa, mas os que guarda num armazém, juntamente com muito outro equipamento de som usado, como gira-discos, leitores de cassetes, telefonias, colunas, mesas de som ou de mistura, vai dizendo que ouve e gosta de tudo um pouco. Tem o ímpeto de ouvir o que não conhece, de descobrir, mas entre as suas preferências estão as referências do jazz e do rock jazz, como George Duke, Marcus Miller ou Stanley Clarke.

Esses têm valor sentimental e são ouvidos regularmente, embora já tenha vendido alguns da colecção pessoal, para satisfazer determinado cliente. Se pessoalmente é mais selectivo, para as feiras de velharias que percorre no país compra e vende todos os estilos musicais, de todas as épocas, e também tem em suporte CD, cassete e até os antecessores “cartuchos”. “Não gosto eu, gostam outras pessoas”, frisa, no espaço particular que tem na Rua do Rodrigo, enquanto acaba de fumar um cigarro para logo de seguida acender outro, com música sempre a soar.

Interesse no formato ressurgiu

O covilhanense é “do tempo do vinil” e nunca abandonou esse suporte, que nos últimos anos ressurgiu em força. Carlos Afonso, todo vestido de negro, fala de uma ligação afectiva, incomparável ao digital. É todo um ritual. A “arte da capa”. O retirar o objecto até o meter em cima do prato para o explorar, faixa a faixa.

A magia do prato a girar esmoreceu durante muitos anos, mas o interesse voltou e isso é notório. Na sua banca nas feiras de velharias não existe uma faixa etária predominante, embora muitos jovens o procurem. Querem ver o que há de novo, procurar discos específicos, conversar sobre música e equipamentos. “Hoje há muita gente a comprar vinis”, nota.

Vinis de bandas míticas “estão sempre vendidos”. São os casos de Supertramp, Pink Floyd, David Bowie. De parte, no armazém que ocupa há dois anos, tem separada uma pilha de 45 rotações de Queen e Rolling Stones, que já não seguem para as próximas feiras de velharias, em Coimbra e Tomar. Mas nas caixas de grade há de tudo. Desde Quim Barreiros ou o Conjunto Maria Albertina a sons que estão nos antípodas.

Há procura para todos os estilos. “O Roberto Leal morreu e vendi tudo o que tinha dele. Há quem procure Marco Paulo ou Quim Barreiros”, conta, sem permitir que os gostos pessoais impeçam quem se dirige a ele de encontrar o que procura.

Carlos Afonso compra a quem já não tem interesse em ter esse formato em casa e por vezes fica com o recheio de casas para aproveitar também antiguidades. Os rádios antigos, por exemplo, têm procura, funcionem ou não. Muitas vezes procurados para decoração, por proprietários de espaços de turismo rural.

“Era em música que gastava o meu dinheiro”

Pessoalmente, não compra com o intuito de coleccionar, mas para ouvir. Pela paixão pela música. Foi assim desde a adolescência, quando havia várias lojas na Covilhã e os estabelecimentos de electrodomésticos também vendiam. Todas as semanas passava para ver as novidades e, no dia em que chegavam, se tinha interesse em algum álbum em particular, tinha de se apressar, para não correr o risco de ficar sem ele, porque vinham poucas unidades de cada. “Era em música que gastava o meu dinheiro e os vinis eram caros, na altura”, recorda. “Agora já não há nenhuma loja na Covilhã”, lamenta.

Com o ressurgir do vinil e a inexistência de espaços físicos na cidade onde os comprar, ter uma loja já lhe ocorreu, mas é uma ideia a maturar.

Aquilo que mais se procura são raridades, edições especiais, prensagens fora do comum. O antigo disc jockey em bares da Covilhã e também “na boîte” A Fonte tem disponíveis vinis desde um euro até mais de 400 euros. Há para vários preços, tanto de 45 como de 33 rotações. A média anda pelos 20 euros. O mais valioso é uma edição limitada, inglesa, do álbum “Commander Of Fate”, dos Black Fate, avaliada em 425 euros.

Quando era criança, Carlos Afonso quis aprender a tocar a guitarra que o pai lhe trouxe de Espanha, mas na altura não existia vaga no Conservatório. Mais tarde o tio levou-o à Casa Bernardino para comprar uma bateria. Naquele dia não havia “e a coisa passou-se”. Não aprendeu a tocar nenhum instrumento, mas nunca se desligou da música, elemento constante na sua vida, tal como os seus vinis “essenciais”, a que regressa sempre e dos quais não se desfaz.

Feiras de velharias na Covilhã e no Fundão

Embora percorra o país, Carlos Afonso participa também nas feiras de velharias da Cova da Beira, A da Covilhã no segundo domingo de cada mês, no Parque da Goldra, e a do Fundão, nas manhãs do último sábado de cada mês, na Praça Velha. Dois eventos sem o dinamismo de outros no país, mas onde é possível encontrar uma diversidade de objectos.

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