“Para dar o salto não é preciso talento, antes trabalho, dedicação e disciplina”

Amaro Teixeira, 35 anos, é um açoriano radicado na Covilhã que, além de ser atleta, embora em part-time, também é treinador. Foi recentemente campeão masters em marcha atlética e diz que já viu muitos jovens talentosos desistirem da modalidade

Acabou se sagrar campeão do mundo de marcha atlética, em masters. Que significado tem para si?

Tem muito significado. Era um objetivo que eu queria tentar alcançar quando chegasse a este escalão. Não são os Jogos Olímpicos, mas para mim é muito importante, com todas as dificuldades inerentes a quem não é exclusivamente atleta. Não ter mais tempo para treinar e descansar. E ainda ter o horário normal de trabalho, mas em regime noturno.

O que é isso da marcha atlética?

É um “caminhar estranho”, como alguns dizem. É uma prova ou até podemos chamar de corrida, mas com duas regras específicas que fazem com que o atleta não possa correr. Tem de haver sempre um pé em contacto com o solo e quando vamos dar a próxima passada o pé, quando tocar no solo, tem de ter o joelho e essa perna esticados. Quem não cumprir, pode levar faltas de suspensão ou flexão. Normalmente isso acontece quando algum atleta está a ir demasiado rápido.

O que é ser um master?

É todo o atleta que tenha 35 anos ou mais. Depois, cada escalão tem a duração de 5 anos, ou seja, dos 35 aos 39 é o primeiro escalão, onde estão a competir os masters mais novos. Estas competições, em termos mundiais e europeus, têm a característica de não terem tempos/marcas de qualificação para um atleta se poder inscrever. Podem participar todos os que desejarem.  Ainda participam alguns atletas que já estiveram em Jogos Olímpicos.  O mais velho neste campeonato tinha 104 anos. É fantástico ver a forma física de alguns atletas mais velhos.

Sei que custeia tudo do seu próprio bolso. A Federação despreza o atletismo que não seja de elite?

Essa é a maior das dificuldades dos Masters: ter que pagar tudo ou tentar encontrar apoios. Não existem critérios de seleção. Acho que a Federação deveria analisar melhor estas participações. Não somos elite, mas representamos o País e damos nome a Portugal. Nesta competição estiveram cerca de quatro mil atletas e apenas seis portugueses, três deles medalhados, com um total de seis medalhas. Ouvimos quatro vezes o hino nacional.  Pelo menos aos atletas medalhados acho que poderia ser pago o valor das inscrições, fornecidos os equipamentos e podiam também estipular um valor simbólico de apoio conforme o lugar do pódio em que ficassem.  Ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio foi uma grande alegria.

Como vê a imposição de pagamento de uma licença para competir em provas amadoras?

Esta medida não foi bem explicada. A mim parece-me que o objetivo da Federação não era mesmo que andassem a pagar uma licença para competir, mas sim que as pessoas tentassem procurar um clube que as federasse, até porque o custo anual da tal licença iria ser mais caro do que se um atleta se juntar a um clube. Há provas em que o atleta só pode participar se estiver devidamente federado. Por outro lado, se a licença fizesse com que os atletas ficassem com o seguro desportivo, aí os organizadores de provas poderiam conseguir baixar os custos de inscrição, pois já não iam ter que fazer seguro para a realização da prova.  Por isso o ideal era que todos fossem federados e que não se assustassem com a palavra federar.

Faz atletismo por hobby, mas trabalha de noite. É difícil conciliar?

É um hobby que já dura há 22 anos. Tento sempre conciliar da melhor forma. Já cheguei a fazer treinos bi-diários, sair do trabalho e ir treinar, depois dormir, acordar e ir treinar novamente, depois trabalho e novamente. Mas não é uma rotina que consiga manter regularmente, também devido às minhas funções de treinador e dirigente.

Como treinador, como vê a região em termos de jovens valores? Há gente para dar “o salto”?

Desde que cá estou, 2008, tenho visto sempre jovens com potencial e que se destacam a nível nacional. Na altura, o Samuel Barata era um jovem e agora é o melhor atleta nacional nas corridas de meia maratona e maratona. Conseguiu o grande feito de estar nos Jogos Olímpicos. Temos também a Laura Taborda, que está também no topo do atletismo nacional. Como eles, haviam mais, mas por uns motivos ou por outros alguns foram desistindo. É uma modalidade individual. Para dar o salto, muitas vezes não é preciso o talento. É preciso é muito trabalho, dedicação e disciplina. Normalmente, os que têm mais talento acabam por desistir mais cedo.

Sendo natural dos Açores, já está radicado na Covilhã há 15 anos. Porque ficou? Já sente a cidade como a “sua” terra?

Já são muitos anos. Tenho quase metade dos anos de vida em cada cidade. Vim para estudar, tirei licenciatura e mestrado em Ciências do Desporto e tenho o Doutoramento parado. Depois, juntamente com o desporto, fui criando raízes e ligações. Também tirei as formações de treinador, tenho o Grau II e acho que tenho dado um bom impulso ao desporto da cidade e da região aos vários níveis, local, distrital, nacional e até internacional.

Quais as próximas metas, em termos competitivos, para o resto do ano?

Para esta época tenho, a nível nacional, a Taça de Portugal em 10km, o Campeonato Nacional de Clubes de pista ar livre da 1ª divisão em 5000m, o Nacional de pista ar livre de Masters e acabo dia 2 de agosto com o Campeonato de Portugal de pista ar livre em 10000m, onde estou a apontar fazer a melhor marca da época. Depois, em outubro, o Campeonato da Europa de Masters em pista ar livre, que já vai fazer parte da próxima época desportiva e será também outro ponto alto de 2025. Quero disputar os primeiros lugares.

PERFIL

Nome: Amaro Jorge de Sousa Teixeira

Idade: 35 anos

Profissão: Recepcionista no Sport Hotel – Treinador de Atletismo/Trail no Penta Clube da Covilhã

Clube: Atlético Clube da Póvoa de Varzim (Só Atleta) – Treinador no Penta Clube da Covilhã e também de alguns atletas de outras equipas

Destaque: “Ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio foi uma grande alegria”

Foto: Amaro Teixeira (DR)

Legenda: Amaro Teixeira, 35 anos, açoriano radicado na Covilhã há 15 anos, foi campeão do mundo de marcha atlética em masters

 

 

 

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