A Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) pretende lançar, em 2025, um passe único para usar em todas as soluções de transportes na região, da ferrovia à rodovia. A informação foi adiantada na passada sexta-feira, 8, na Covilhã, pelo secretário executivo da CIM-BSE, António Miraldes, na conferência “O Interior e o futuro sem portagens- Mobilidade, ambiente, investimento e competitividade” promovida pela Plataforma P’la Reposição das SCUTs na A23 e A25.
“A ideia é que as pessoas, em 2025, possam ter um passe único, para todos os transportes, para o intermodal” frisou o responsável, que diz que esta é uma das premissas do concurso público internacional de transportes lançado em setembro pela CIM-BSE, que irá “alterar o paradigma dos transportes” na região, segundo António Miraldes. Um concurso que prevê um custo total de 32 milhões de euros em transportes na comunidade intermunicipal.
Miraldes lembrou que, em 20 anos, a região perdeu cerca de 48 mil pessoas e que isso “tem claro impacto na área dos transportes”. Segundo ele, este setor abarca quase 40 por cento do orçamento anual da CIM-BSE, e os apoios estatais, como o PART, ou outros programas, não chegam para fazer face às despesas existentes, sendo os municípios a suportar o défice. “No primeiro semestre de 2024, a CIM já suportou mais de dois milhões de euros em transportes, e mesmo assim, sabemos que a rede não vai de encontro às necessidades da população” afirma. Contudo, acredita que o panorama pode melhorar com o concurso internacional agora lançado, e também com o fim das portagens. “É mais que evidente que toda a região fica a ganhar sem elas” afirma.
Jorge Gonçalves, docente da UBI, lembrou as desigualdades que existem em termos demográficos e de investimento entre Litoral e Interior, mas frisou que o preço médio das portagens entre as duas regiões não é muito desigual, pelo que “vamos ter uma situação mais vantajosa” quando em janeiro as portagens forem abolidas na A23 e A25. Neste cenário, o docente diz que transportes como o táxi, ou a TVDE, podem vir a ter “potencial no transporte coletivo de pessoas”.
Paulo de Morais, docente universitário, e presidente da Frente Cívica, criticou o dinheiro gasto pelo Estado em parcerias público-privadas (PPP). “São ruinosas, mas ninguém acaba com a ruína” lamenta, dizendo que o dinheiro do Orçamento de Estado gasto em despesas “excecionais”, muitas vezes para pagar estas operações, é um balúrdio (cerca de 13 mil milhões de euros) quando comparado com a quebra de receita que o Estado terá ao abolir portagens na região. “Não são 150 milhões de euros que vão deitar o Estado abaixo. É uma gota de água. É de elementar justiça que o cidadão do Interior deixe de pagar portagens” frisa.
Luís Veiga, empresário hoteleiro, que integra a Plataforma, elogiou a medida governamental, mas deixou críticas ao Governo no que toca às opções para a alta velocidade, Lisboa/Porto. “Vamos pagar todos algo que não nos vai dar nada” critica.
A Plataforma P’la Reposição das SCUTs na A23 e A25 tem, desde 2017, desenvolvido uma acção persistente pela eliminação das portagens no Interior do País. Em comunicado, frisa que neste momento, acompanha com “natural atenção” a sua implementação e já pensa no tempo pós portagens, onde se projetam “novos e emergentes desafios da mobilidade, da defesa ambiental e da importância do investimento para o Interior para dar competitividade”. A Plataforma integra nove organismos diferentes, dos distritos da Guarda e Castelo Branco, desde empresários, sindicatos e comissões de utentes.