Procurar
Close this search box.

Pastores: a “festa mais valente” que traz gente às Cortes do Meio

A freguesia recebeu, entre sexta-feira e domingo, a festa dos Pastores, que contou com música e animação, que pouco se veem na aldeia

História, tradição, chanfana, licores e animação. São as cinco palavras mais ouvidas ao falar com pessoas que andam, por estes dias, pelas ruas estreitas das Cortes do Meio. Estamos no fim-de-semana de 6 a 8 de outubro e ‘as Cortes’ não dormem. Foram invadidas pelo espírito de festa e animação, ouvem-se músicas interpretadas pelas Tunas da UBI, grupos de bombos, concertinas, ranchos, bandas filarmónicas, entre muitos outros.

“A tradição é o comer e beber, a chanfana, a feijoada e o bom ambiente que se sente. E claro, os chocalhos, também”, explica Conceição Migueis, de 62 anos, trajada a rigor com vestes antigas. “Estive 30 anos em França e já estou há 20 em Portugal. Mas sempre gostei muito da minha aldeia e então agora, com estas ‘coisinhas’ assim, gosto muito de ver a vida que dá à minha terra”, conta Conceição, que considera que a festa dos Pastores é um evento muito importante para a aldeia de Cortes do Meio. “Foi uma coisa muito bonita da parte deles [da organização]. Deus queira que se faça o evento por muitos anos. Vou continuar a participar enquanto for viva”, garante entre risos.

No fundo de uma rua, no meio de um grupo de senhoras animadas, está Ana Fernandes, 59 anos. Vem de Lisboa, mas tem raízes na aldeia e conta que é a terceira vez que está na festa dos Pastores. “O que me chama mais à atenção é a alegria nas ruas, o convívio entre as pessoas. Tenho família cá da aldeia e desde miúda que venho passar férias aqui”, recorda.

Quando Ana fala sobre a importância de um evento que relembra “tradições de outros tempos”, a mãe, Aida, 90 anos, conta como eram as Cortes outrora.   “Só tenho pena de já ter muita idade e não poder vir cá muita vez. Mas adoro ver a minha aldeia com estas festas e tão animada. Antigamente, não se fazia esta festa, mas os rebanhos passavam aqui, pelas ruas da aldeia fora”, recorda a senhora. A idosa reforça o amor que tem pela sua terra, e pela festa em si: “Venho sempre que cá estou, de propósito para vir à festa. Venho cá várias vezes no ano, mas nesta época tento sempre cá estar e a minha filha mete férias do trabalho para vir comigo”, conta bem-disposta. “Ela gosta muito de continuar a vir à aldeia e, enquanto ela for viva, venho sempre acompanhá-la”, assegura Ana, que também confessa divulgar o evento em Lisboa e que “as pessoas de lá gostam muito quando cá vêm”.

No portão de uma casa está “a Loja da Luísa”, onde se vendem pulseiras, fitas para o cabelo e artigos semelhantes.  Luísa Esteves tem 72 anos e vende nos Pastores desde a primeira edição. “Aqui é sempre um deserto e com estas festas está cheio de gente e conhecemos muitas pessoas novas. Isto é muito importante para as Cortes do Meio, porque a nossa aldeia fica conhecida. Gosto muito de ter estas pessoas simpáticas aqui à porta da minha casa”, conta.

Luísa é ajudada pela sua filha, Elisabete, 34 anos, que é a responsável pela decoração a rigor da casa da sua mãe – com um pastor desenhado e montado para adornar a habitação, de acordo com o tema da festa.

Segundo Elisabete, a iniciativa pretende manter o desfile dos chocalhos, que é “simbólico” e “o momento alto” do certame, considera.

A filha de Luísa acredita que o que chama mais à atenção de quem visita as Cortes do Meio é “a gastronomia, nomeadamente a chanfana”. Mas realça também a importância das caminhadas que se promovem. “Estamos ricos em paisagem e isso também é um chamariz para atrair pessoas” considera.

“Queremos honrar o que é a tradição”

Perto do portão estão Teresa Rege, Natividade Santos, Maria Fernandes e Emília Sousa, quatro amigas que trabalharam juntas em fábricas. Teresa e Natividade são das Cortes, Maria e Emília usam a festa dos Pastores como pretexto para irem lá e reencontrarem as colegas.  “Eu venho para as rever, pois são daqui, e para conviver. É bom para nos distrairmos um bocadinho e ter uns dias diferentes”, afirma Maria Fernandes, 63 anos. Ao seu lado, Emília Sousa, 64, concorda. “Nós vimos juntas e vejo cá muitas colegas minhas do tempo do trabalho e revivemos esses momentos”, conta.  Mas o convívio não é a única coisa que chama as duas senhoras à atenção. “A chanfana é muito boa, os comes e bebes aqui são sempre bons. E os licores também!”, adiciona Emília.

Maria Fernandes acrescenta que já experimentou sabores diferentes de licor. “Já bebemos licor de corno de chibo. Vou continuar sempre a vir à festa para comer, beber e conviver”, diz divertida.

As colegas Teresa e Natividade afirmam que, estando presentes na festa dos Pastores desde a primeira edição, “a tradição passa muito pela ‘chiba’, que é da terra, a chanfana e as cabras que se criam nas Cortes do Meio”.  Natividade recorda que, na Bouça, as cabras ainda passam algumas vezes pela aldeia, apesar de já não se ver isso acontecer com muita regularidade.  “Acho que esta é a festa mais valente, que traz mais gente para cá”, vinca Teresa Rege, mencionando a importância que o evento tem para dar visibilidade à freguesia.

Alexandre Barata, presidente da Filarmónica Cortense e um dos responsáveis pela organização do evento, conta que pretende manter viva a tradição da pastorícia que sempre se viveu na aldeia.   “Somos uma freguesia de pastorícia, já de tempos remotos. Até se pensa que o termo ‘Cortes’ do nome da aldeia, seria relacionado aos cortes do rebanho de cabras. Sempre houve a tradição da pastorícia e nós queremos honrar o que é essa tradição, até porque na nossa aldeia ainda há sete pastores no ativo” adianta. Alexandre considera que tem corrido bem: “A adesão tem sido positiva. Nos espaços abertos temos vindo a aumentar todos os anos. Este ano, até tivemos lista de espera, caso houvesse alguma desistência. Os espaços que tínhamos para serem concedidos foram todos ocupados”, informa.

“No ano passado tivemos 42 stands, este ano já tivemos 46. Portanto já há um acréscimo de quatro e fora a lista de espera que tivemos, o que demonstra interesse também. As expectativas é de ir sempre aumentando, mas não queremos aumentar muito mais o conceito de tradição que temos”, explica o presidente da Filarmónica. “Mas ainda temos hipótese de conseguir estender um bocadinho o circuito e tentar albergar mais alguns participantes” assegura.

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2023 Notícias da Covilhã