O tapete rolante utilizado para os voluntários separarem os bens alimentares que, todos os anos, no último fim-de-semana de Novembro, chegam nas carrinhas vindas dos hipermercados, está encostado à parede do armazém. Não foi necessário. A balança onde os bens não perecíveis são pesados, antes de serem registados e arrumados nas prateleiras, esteve de folga nos dias em que habitualmente não lhe é dado descanso. A cave localizada na Boidobra, sede do Banco Alimentar (BA) Contra a Fome da Cova da Beira, não viveu a azáfama característica nesta altura, tal como aconteceu em Maio.
A pandemia impediu pela primeira vez o Banco Alimentar de fazer as suas duas recolhas anuais de alimentos, os dois momentos em que entra no armazém do Bairro da Alâmpada a maior quantidade de bens para distribuir, numa altura em que esse apoio é ainda mais necessário. O número de pedidos de ajuda tem aumentado e só na cidade da Covilhã, desde Março, altura em que a covid-19 começou a provocar danos não apenas na saúde, mas também económicos e sociais, o número de pessoas a precisarem deste auxílio triplicou.
Num total de cerca de 4.300 pessoas apoiadas em 13 concelhos da região, através das 34 instituições que sinalizam as carências e distribuem os alimentos, 1.300 são do concelho da Covilhã.
Paulo Pinheiro, o presidente do Banco Alimentar da Cova da Beira, sempre com o telefone a tocar, explica que o cenário na Covilhã se deve à “má tradição do trabalho ao negro”, mais acentuada na Cidade Neve. Estas pessoas não estão oficialmente a trabalhar, não fazem descontos e, “perante uma situação tão radical como aquela que sucedeu, muitas foram enviadas para casa, e como não estavam inscritas em nenhum sistema, não podem recorrer a apoios e ficam numa situação muito descompensada”.
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