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Pedir chuva

Chegamos ao ponto de o jornalismo ser notícia de primeira página. Porque tem sido muito mal tratado

A paróquia de Castro Marim, no Algarve, pediu aos fiéis que se juntassem numa vigília, e numa oração conjunta “pedissem chuva”. Já se sabe que Ele está lá em cima a “ouvir” os pedidos das populações aflitas, e neste caso, a solicitação para a ajuda divina, é pela falta de água. Em 1976, e pelos mesmos motivos, o Papa Paulo VI criou no Vaticano uma reza especial, pedindo a bênção da chuva sobre a Europa, e que rezava a dado passo “Faz cair do céu sobre a terra árida a chuva desejada, a fim de que renasçam os frutos e sejam salvos homens e animais”. Pode até ter chovido na altura, os frutos terão renascido, alguns animais conseguido recuperar, agora a salvação humana decerto não aconteceu. Bem pelo contrário. Mais recentemente, o cardeal-patriarca de Lisboa, pedia aos diocesanos que incluíssem a chuva nas suas récitas; “Deus do universo em quem vivemos, nos movemos e existimos, concedei-nos a chuva necessária para que, ajudados pelos bens da terra, aspiremos com mais confiança aos bens do Céu“, assim versava o apelo de Manuel Clemente, na sequência do verão quente de 2017. Esta chuva cristã que lava as almas, não é a mesma que sai do trecho popular “está-te o corpo a pedir chuva”, que tantas vezes ouvi, quando em pequeno “saía dos eixos”, e que fazia com que de seguida a minha mãe me “chegasse a roupa ao pelo”. Bem merecida, naturalmente. É a mesma chuva que levou os estudantes católicos da universidade a pensar; “mas que diabo faz aqui um jornalista, nesta cerimónia tão chegada a nós, como diabo foi ele aqui entrar, nesta reunião tão religiosamente privada?!”. Foi obra do Diabo estou certo, esse que parece andar por aí, que ainda assim ninguém vê, mas que ter-se-á apoderado dos corpos dos jovens rapazes organizadores do secreto encontro, dando-lhes extraordinários poderes para, à força expulsarem quem ali estava no livre cumprimento do dever de informar. Devidamente habilitado e até convocado.

Eis-nos aqui chegados. Ao momento metáfora, mais um, da forma como se trata a imprensa em Portugal. A verdade é definidora, e resulta num total desrespeito pelo nobre direito de informar, pela liberdade de imprensa. E, pasme-se, até por estudantes universitários devidamente arrebanhados por pastores da lábia, a quem só lhes falta fazer chover, é a nossa liberdade, agredida. E é por aqui termos chegado, que chegamos ao ponto de o jornalismo ser notícia de primeira página. Porque tem sido muito mal tratado, e isso numa democracia com 50 anos nunca poderia ter acontecido. A não ser que os jornalistas dancem, e façam chover.

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