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Pero Jorge: o homem que comprou sanguim

Carlos Madaleno

A 22 de fevereiro, de 1511, sábado, zarpava de Lisboa, rumo a Cabo Frio, Terras de Vera Cruz, a nau Bretoa. A sua missão seria trazer para Portugal a maior carga possível de Pau-brasil, a madeira de uma árvore, cujo tronco pode variar entre 20 e 30 metros de comprimento. Mas a maior riqueza, presente no Pau-brasil, era um subproduto, vermelho intenso, semelhante às brasas de fogo. Essa tinta rubra era utilizada para tingir tecidos e móveis, atribuindo imenso valor aos produtos comercializados na Europa.

No dia 26 de maio, o navio ancorou na mais antiga feitoria do Brasil, Cabo Frio. Os tripulantes começaram a carregar o navio, em 12 de junho. Ao longo de 15 dias de trabalho, foram transportados cerca de 330 toros diários, o equivalente a oito toneladas. Como dos 36 tripulantes, 5 eram oficiais, 4 eram pajens e 13 eram marinheiros, o carregamento do pau-brasil foi realizado pelos 14 grumetes. Entre estes, encontrava-se o covilhanense Pero Jorge. Desta figura da nossa Covilhã pouco se tem falado, sendo, provavelmente, o Professor Candeias da Silva o primeiro a fazê-lo.

Ainda solteiro e ambicionando melhor vida, Pero Jorge aventurara-se a fazer a longa e temerosa viagem, atravessando o Atlântico para depois, em jornadas de dez horas de trabalho, carregar uma média de 24 toros. Pero Jorge e os 13 companheiros carregaram na nau Bretoa perto de 100 toneladas de Pau-brasil. Não terão tido tempo, nem autorização para conhecer o Brasil.

D e acordo com o regimento da nau Bretoa, os tripulantes não podiam ultrapassar os limites da feitoria, visitar a terra firme, falar e negociar diretamente com os indígenas. Não podiam pernoitar fora da nau e os que “arrenegassem” de Deus, da Virgem ou dos santos seriam multados em três mil-réis e condenados a tempo de cadeia, na volta a Portugal.

Entre todas estas restrições, existiam algumas liberdades. Podiam negociar com os indígenas tesouras e facas, mas não armas, podiam ainda trazer, para Portugal, animais silvestres do Brasil – papagaios, macacos, saguins, tuins e gatos. Tal negociação, no entanto, deveria ser feita exclusivamente por intermédio do feitor e nunca diretamente com os índios. A tripulação da nau Bretoa transportou para Lisboa mais de 60 animais, entre eles 15 papagaios, 12 gatos e seis macacos, além de saguins e tuins, avaliados em oito mil-réis, valor sobre o qual o escrivão recolheu “um quinto”, referente aos impostos reais.

Embora o regimento referisse que era expressamente proibido maltratar os indígenas, a nau Bretoa trouxe 36 escravos para Lisboa. Eram 26 mulheres e dez homens.

Em princípios de agosto, a nau Bretoa zarpou de Cabo Frio e, no dia 11 de outubro, de 1511 ancorou em Lisboa. A viagem durara oito meses e, apenas com o pau-brasil, o lucro de Fernando de Noronha, Bartolomeu Marchioni e seus dois sócios chegou a quatro mil ducados. Quanto terá arrecadado o nosso Pero Jorge não sabemos, decerto pouco, trouxe consigo um saguim, não resistira à novidade do Novo Mundo. Decerto, seria cobiçado por ter um animal que os outros nunca tinham visto.

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