Porque sentimos medo?

Cátia Ruas Antunes

Psicóloga Clínica

O medo é a nossa emoção mais primal. Porque sentimos medo? Qual o propósito desta emoção profundamente difícil de regular? Apesar de parecer uma emoção perigosa, tem o propósito, precisamente de proteger do perigo. Se imaginar que está numa Savana e de repente um tigre salta atrás de si, o medo pode potenciar uma super energia no corpo, que possibilita comportamentos extraordinários de Fight or flight. Lutar ou fugir. São todos mecanismos de proteção fundamentais. A amígdala é a estrutura onde as nossas emoções básicas são ativadas e está estreitamente ligada ao medo. O medo traz uma certa consciência e sem ele, teríamos comportamentos profundamente negligentes. Um aspecto curioso, no documentário premiado Free Solo, sobre o alpinista Alex Honnold, que escala uma montanha quase vertical em Yosemite, reflete a inatividade da amígdala, através da ressonância realizada ao seu cérebro.

É certo que há pessoas que têm menos medo do que outras. E naturalmente, existem estratégias para ler o medo, e os seus sinais que assaltam o corpo. O medo é a base de muitos estados de ansiedade e pânico. Podemos abrir o tema do medo, e reflectir sobre o quão difícil é ler e gerir esta emoção dura. Quando o cérebro vive algo que não reconhece, nunca experienciou, é muito provável que interprete como uma ameaça. Seja o primeiro dia de trabalho, escalar uma montanha, ou conhecer alguém novo, é muito provável que seja uma experiência vivida com alguma ansiedade.

O que fazer quando o medo extravasa o limiar da ansiedade? Imaginar. Pensar construtivamente. Numa primeira instância, prepara o cérebro para desafiar o medo que estará envolvido. Ao imaginar, o cérebro percepciona como primeira experiência. Pensar a experiência com compaixão, e não de forma pessimista e perigosa, pode criar tolerância e compreensão. Passo a dar o exemplo, do alpinista Honnold, que naturalmente sentiu que o desafio a que se propôs seria assustador. No entanto, ao visualizá-lo, imaginou e pensou num plano para expandir gradualmente a sua zona de conforto. Escalou o “El Capitan” centenas de vezes com uma corda, condicionou-se a condições extremas. Musculou a sua ideia e preparou o corpo. Acostumar o cérebro à ideia, visualizar e preparar cria uma familiaridade com o evento.

A neurocientista Lisa Feldman Barrett refere que “as experiências passadas dão significado às suas sensações do presente.” O que significa que como Honnold afirma: “O nível de medo depende do nível de preparação.” E assim como o cérebro de um monge budista passa anos a meditar, ou um cérebro de um pescador que decora as marés e os peixes, ou mesmo de uma criança que aprende a ler e tem medo de não o conseguir, o treino leva à perfeição. Prepara a mente, que aos poucos, passo a passo, cria a tolerância ao medo. E compreender ajuda a sossegar o medo.

Uma boa semana. Bem-haja.

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