Elisabeth Morão
Professora
As férias estão, ou já estarão, a acabar para a maioria dos leitores do NC. É invadida de alguma pré-nostalgia que resolvi, num ato de total falta de originalidade, eleger o tema das férias para este artigo. Não existe mês mais emblemático para as férias de verão do que agosto, com a afluência de milhões de turistas para as nossas lindas praias, vales, socalcos, searas e serras, conquistando todos os espaços de lazer, de desporto, de diversões e entretenimento. Em termos económicos, Portugal está dependente destes rendimentos e, pelo que infiro, subjugado por eles.
Fiel à minha praia da Figueira da Foz, desde o meu passado de filha de imigrantes, criei uma ligação umbilical com esse pedaço de mar revolto e de areia esvoaçante.
Para mim, voltar à Figueira, permitia-me reconectar-me com a minha portugalidade, ainda embrionária, e ajudou certamente na sua consolidação. Por isso, ainda hoje, volto sempre a esse lugar onde os amigos estão à minha espera e isso é um sentimento tão delicioso como uma caldeirada de peixe partilhada numa mesa alegre e barulhenta com as gargalhadas de felicidade: todos os sentidos a rejubilar.
Este ano foi um pouco diferente. Existiram as gargalhadas, a caldeirada partilhada, os passeios e os banhos, as noites agitadas e dançantes, tudo concentrado numa semana que se revelou raquítica pelas vontades de tudo fazer caber em seis dias e no orçamento familiar. É que Portugal não é um país para quem cá trabalha. Vi pessoas imigrantes a queixarem-se, e com toda a razão, da exorbitância dos preços praticados no alojamento. Exemplificando: 2000 euros para 16 dias, numa casa velha de Buarcos, a cheirar a mofo e com a decoração mais inimaginável e pirosa. Mais, para além da envolvência decorativa duvidosa, é apresentado aos inquilinos uma lista de obrigações a respeitar, sob pena de multa. Não é preciso ter perícia contabilística para constatar que o preço do alojamento para uma família portuguesa de classe média é completamente incomportável.
Logo, chego à conclusão que, talvez, o que se pretenda da maior parte do povo português, excluindo os mais abastados que não são assim tantos, é que enveredem para a restauração, hotelaria e acolhimento de turistas (ricos), fazendo deste pedaço de retângulo mágico à beira-mar, um grande parque de férias. E em boa verdade temos tudo para ter sucesso, só não temos posses para disso gozar.
Para não terminar nesta nota acre, não posso deixar de partilhar a experiência de estar à mesa de um restaurante típico de Buarcos (não daqueles de sardinha gourmet), na rua dos Pescadores, quando de repente surge um rosto conhecido a passear com a sua guitarra, Maurício Melfe, do Ferro, e o seu amigo João Saúde, da Vila do Carvalho. Interpelado pelos clientes da esplanada para cantar, logo se dispôs a partilhar os fados de Coimbra e as canções populares até conseguir extirpar as lágrimas dos olhos de todos aqueles que já estiveram ou ainda estão no estrangeiro e vivem com Portugal no seu peito. Porém, confessam que apesar deste amor eterno, as dificuldades financeiras que veem em seu redor nos familiares que decidiram ficar, não lhes permite viver essa história de amor. Como dizia George Brassens, “Il n’y a pas d’amour heureux.”