Chegou o momento. Em que finalmente se deve escrever sobre aquele grupeto que se faz passar por partido político. Escrevo deve, porque poder há muito que se podia. Há muito que se fazia. Só que sem qualquer sentido. Todo o mundo comunicou sobre uns tais “portugueses de bem” que se apresentaram à sociedade como salvadores da pátria, e foram crescendo em camadas de populismo que lhes foi vendido ao jeito de toalhas e acolchoados na parte de trás de uma camioneta. Foi-lhes dada importância que nunca tiveram, e isto apesar da força parlamentar que obtiveram através do voto. Estou em crer que agora sim, agora é que se deve acentuar o protagonismo destas personagens, porque esta é a sua verdadeira essência. A de “pessoas malfeitoras “, como se auto-definiu o deputado-maleiro, quando explicava a jornalistas a sua expulsão daquela associação, como castigo necessário e inevitável. Quando o líder do grupo parlamentar da colectividade diz no plenário que as coisas não foram pacíficas no momento da confrontação entre deputados, sabemos bem o que quis dizer. Imaginamos o nível de argumentos apresentados por ambos os lados. Porque não devemos estar chocados nem sentir vergonha?! Escrevo por mim. Na verdade, tenho sentido vergonha alheia, apenas pela existência da moralidade do Chega, e porque todos, mesmo que indirectamente, temos um grau de responsabilidade no fomento de um fenómeno sem fundações, uma casa sem alicerces, assente em nada. Aquilo é muito pouco. Agora sinto alívio, porque a aproximação moral aos conceitos do Estado Novo pelos apaniguados de Ventura, revela tiques de bandidagem. Não me choca. Era esperado.
Fico chocado sim, e creio que muitos de nós, com a possibilidade de Arruda, poder continuar como deputado. Parece-me revelador do ponto a que o exercício do conceito servir e representar o povo, chegou. Bom, mas chega! Também me incomoda, e muito, que paladinos da humanização, processo que deve estar na matriz da construção do Bloco de Esquerda, sejam eles próprios nascente de um rio de dúvidas sobre a ausência de protecção laboral a suas trabalhadoras, mães recentes, e que aparentemente terão sido dispensadas porque os maus resultados eleitorais reduziram para metade o valor das subvenções que o movimento politico recebia. A notícia pode ser exagerada, o afastamento das trabalhadoras pode até ser legal, mas a bem do rigor, quem diz combater todas as fontes de desigualdades sociais, baseadas em formas de exploração e exclusão, tudo deve fazer em prol da verdade, e dos direitos humanos. É assim que se definem os verdadeiros “portugueses de bem”.