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Porventura

“Mentir de forma compulsiva passou a ser aceite com naturalidade, como fazendo parte de um procedimento tão eficaz quanto necessário para se chegar ao poder”

Eu me confesso. Cada vez que ouço o primeiro-ministro ou outros líderes políticos utilizarem a expressão porventura, e se estiverem bem atentos, têm de admitir que não são poucas as vezes, dou por mim a pensar; – “porra, ninguém deveria dizer isto… esta palavra não se diz, soa mal”, para de seguida proferir, qual Capitão Haddock, raios e coriscos, ao imaginar o vaidoso neo-fascista exibindo a dentola quando diz; “lá estão eles sempre a pensar em mim…”- E o que é mais doloroso é que o tipo não deixa de ter razão. É à esquerda, à direita, são os mediáticos comentadores que não descolam da tentação de exultar os incríveis feitos do aspirante a ditador… caramba… BASTA. Deixem isso para o humor. Aquilo não existe, não passa de um sonho mau de que ninguém se lembrará quando acordarmos desta letargia mental em que a democracia caiu. Dirão os rapazolas dessa organização sem base, que a liberdade também é isto… deixar espaço para todos, mesmo para os fascistas. Sim, como deixá-los a falar sozinhos também faz parte desse exercício. Somos livres de não sermos incomodados, de andarmos com quem muito bem queremos. Ao colocarmos permanentemente no topo das prioridades do país os seus perigosos devaneios, suas evidentes mentiras, estamos a desviar-nos do fundamental, a seguirmos pelo mesmo caminho, e a jogarmos o jogo da desonestidade. Não podemos assinar pactos de estabilidade com quem nos quer enganar, não nos podermos sentar à mesa com quem nos quer processar. Não é por nada, porventura nada.

 

O advérbio que nos atira para o acaso, por acaso incomoda-me muito porque me remete para a falta de coragem de outros intervenientes com tamanha responsabilidade que continuam a tentar acordos e entendimentos com quem só pensa na sua ambição política. Ninguém imagina este “trumpito” de trazer por casa a fazer algo por nós, a querer um país mais incluso, mais justo, mais desenvolvido, mais rico. Mentira. “Fazer as pessoas pensar que a mentira pode ser a verdade é uma loucura”, dito por Robert de Niro a propósito do mentiroso Trump que diz estar a “destruir a verdade”. A loucura do candidato americano baseada na mentira, é hoje a mais pura das verdades. Mentir de forma compulsiva passou a ser aceite com naturalidade, como fazendo parte de um procedimento tão eficaz quanto necessário para se chegar ao poder. E o que é certo é que em muitos casos, vai dando resultado. No caso das eleições americanas, não podemos estar certos de que não volte a dar resultados. Por cá, estamos entregues a uma indefinição total, em que a democracia tarda em crescer, em afirmar-se. E ela, a democracia não é para todos, sobretudo para os que não querem viver nela. Porventura.

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