Projetos estruturantes esquecidos (Parte II)

José Serra dos Reis

Vereador na Câmara da Covilhã

As reservas estratégicas de água são outra temática abordada no PROT Centro. Neste contexto, barragens, regadios e comunidades energéticas são projetos que importa projetar e executar. A barragem de Cortes 2 não consta como reserva estratégica, no entanto urge encará-la como prioridade para o desenvolvimento local e regional, porque não é assim que tem sido tratada pelo atual executivo municipal. Há 35 anos, era eu presidente de Junta de Freguesia de Cortes quando recebi e afixei um edital sobre a construção desta barragem. Pouco mais se fez até hoje, estamos quase no mesmo ponto e talvez a Câmara Municipal esteja mesmo interessada em bater o record do Aeroporto de Lisboa, 50 anos em discussão. É que 12 anos passaram e o atual executivo, com a responsabilidade máxima do atual presidente, não foi capaz de elaborar e apresentar o projeto. Mais, se por qualquer golpe de magia hoje tivéssemos projeto e dinheiro para a sua construção também não o poderíamos executar porque os materiais só aí chegariam de helicóptero (falta estratégia, planeamento, vontade e trabalho…). Esta barragem, além do armazenamento de água para consumo, a orografia das duas ribeiras de Cortes e Goldra permitiria a instalação de um vasto número de geradores e mini-hídricas que possibilitariam a produção de milhões de kwa de energia limpa, com os consequentes dividendos financeiros. São estas condições e estes recursos naturais que permitem que a Covilhã se transforme numa Comunidade Energética e possa reduzir significativamente as faturas de energia nas suas instalações e mesmo as dos consumidores do nosso concelho.

O Alargamento do regadio da Cova da Beira, à margem direita do Zêzere sofre dos mesmos males (esquecido, parado e perdido no tempo). O projeto esteve em processo de contratualização, por minha iniciativa, mas não avançou. porque foi atacado por um dos famosos vetos financeiros, de gaveta e até hoje não andou nem desandou. Barragem de Atalaia outro projeto estruturante a marcar passo. A inércia a funcionar.

A rede regional de aeródromos é outro foco a ter em conta. Entre nós, os meios de transporte aéreos continuam esquecidos, perdidos e eternamente adiados. O anterior executivo, incautamente, acabou com o velhinho aeródromo, mas ainda lançou o projeto para um novo e até definiu uma localização. O atual nada mais adiantou. Nada fez para municipalizar a Quinta dos Lamaçais, ação e espaço fundamentais para a localização e construção do futuro Aeródromo da Cova da Beira, com um entreposto hortofrutícola, nas suas imediações e perto da linha de caminho de ferro. É preciso legalizar e preparar o heliporto da Covilhã para servir também o comércio, a indústria e o turismo. A rede de transportes aéreos é uma reivindicação de todos quantos investem e querem continuar a investir na Covilhã e na Cova da Beira. Os produtos agrícolas que se produzem são de primeiríssima qualidade e têm de chegar frescos aos principais mercados nacionais e europeus para aumentar as receitas de comercialização.

O Metro de Superfície Covilhã/Fundão, anunciado há mais de um ano, é mais um na fase do faz que anda, mas não anda.

Eternamente adiado anda o Plano de Pormenor Intermunicipal da Torre, pelo trabalho que não têm realizado os responsáveis autárquicos dos três municípios, Covilhã, Manteigas e Seia. Estes não merecem as potencialidades e as virtualidades naturais da Montanha Mágica, principal marca de atração turística da Covilhã, da Cova da Beira e da Beira Interior. Nada têm feito para um verdadeiro ordenamento do triângulo Penhas da Saúde/Torre/Penhas Douradas. Aqui a síndrome do imobilismo não é igual para os três. A Covilhã até tem estado bem, nomeadamente os Serviços de Planeamento que cumpriram a suas obrigações e o próprio ICNF, enquanto dirigido por Fátima Reis, também se empenhou. Como se trata de um Plano de Pormenor conjunto, basta um município meter travão, não querer andar e os outros também ficam imobilizados. O Plano de Pormenor tem de projetar e propor a criação de uma alternativa aos acessos rodoviários para o Planalto Central, com recurso a meios mecânicos. Ainda na Serra, em particular nas Penhas da Saúde torna-se imperioso projetar e executar um parque de campismo, um Centro de Alto Rendimento e instalações para a GNR de Montanha e a Proteção Civil. O alargamento e a legalização dos parques de campismo e de caravanismo existentes esperam por mais empenhamento. A terceira fase do Alargamento da Zona Industrial do Tortosendo teve 12 anos de completo marasmo, com prejuízos significativos para a atração e fixação de investimentos.

O acesso à Serra da Estrela pela rua Morais do Convento/Santo António ou outra alternativa e uma radial de vias de ligação entre os principais polos industriais e habitacionais da grande Covilhã não têm tido a atenção que merecem. Falta rasgo, porque se existisse a estrada Estrela Sul já estaria concluída, não sendo estruturante, seria uma boa alternativa ao estrangulamento da Rua Rui Faleiro. Liga a EN 339, à EN 230, numa distância de 9km entre as Penhas da Saúde e o cruzamento de Cortes do Meio, futuro nó do IC6, com ligação à A23. Com projetos e pareceres aprovados, é uma estrada segura, com pouca inclinação, permite a circulação e o cruzamento de todo o tipo de veículos e é fundamental para a construção da barragem. Os custos para a sua finalização importarão em cerca de  1 500 000€ (já foi alargada, construídas valetas e aquedutos e aplicado o tout venant).Só mesmo a falta de visão estrutural e a má vontade política do presidente da Câmara impedem a sua conclusão.

As creches foram pensadas, projetadas e de seguida abandonadas. Os centros escolares talvez nem pensados. Estas infraestruturas são estruturantes e fundamentais para o apoio às famílias e para a qualidade do ensino/aprendizagem. Pavilhão Multiusos/Centro de Congressos, Parque de Feiras, Complexo de Piscinas e Parque Verde andam a passo de caracol e quando se abre a discussão a muitas vozes é um sinal de stop.

Este artigo não se destina ao atual executivo e muito menos ao atual presidente, porque, nestes e noutros projetos estruturantes, o que não fizeram em 12 anos, não irão realizar em 6 meses. Espero que sirva de alerta aos atuais candidatos e futuro executivo, para que, a partir de outubro assuma o compromisso de trabalhar, planear, projetar e executar. Em suma fazer o que ainda não foi feito de modo a contrariar a inércia do atual executivo. Exorto para que os projetos estruturantes deixem de ser esquecidos, ignorados e perdidos no tempo. Para isso tem de fazer jus ao ditado popular: “Nunca deixes para amanhã o que podes fazer hoje” porque neste ciclo autárquico cultivou-se o contrário: “Deixa lá… o que não se faz num dia faz-se noutro dia”.

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