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“Qualquer dia temos uma escola vazia”

Desde o “prof” de educação física que teve o tempo de serviço congelado e por isso, está alguns escalões abaixo do devido e não chegará ao topo de carreira, ou a professora que há 19 anos dá aulas e ainda não tem horário completo, ou aquela que para exercer fazia, semanalmente, mais de mil quilómetros, gastando quase 600 euros em combustível. Ou aquele docente que dá aulas há mais de duas décadas e não vê, há anos, a passagem de escalão e subida no ordenado. Todos estes, e mais alguns casos, não deixaram esta segunda-feira, 23, de mostrar a sua indignação na greve nacional de professores que chegou, nesse dia a Castelo Branco, e que teve eco na Rotunda do Operário, na Covilhã. Tratou-se da sexta greve do conjunto de 18 com incidência distrital, convocadas por um conjunto de oito organizações sindicais e que juntou, na Cidade Neve várias centenas de docentes em protesto. Segundo os sindicatos, quase meio milhar.

Segundo o Sindicato de Professores da Região Centro, a retoma das negociações que o Ministério da Educação suspendeu em Novembro, “a julgar pelos documentos que o mesmo divulgou dia 18 de Janeiro, não deixa os professores tranquilos em relação às intenções governamentais, não só, relativamente à revisão das regras de concursos e colocações, mas também a outras matérias que carecem de respostas urgentes e que continuam a ser desprezadas pelo Governo.”

A greve é que “mantém negociação” do Ministério

Na Covilhã, Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, garantiu que no distrito mais de 90 por cento dos docentes fizeram greve e que apenas um ou outro deu aulas nas diversas escolas do distrito. Segundo este, na sequência da reunião que houve sexta-feira passada, “os colegas podiam achar que as propostas eram tão boas que não havia razões para continuar a greve. Mas a resposta está aqui. São propostas inaceitáveis, quer no caso da vinculação ou outros assuntos, como a questão do tempo de serviço, os horários de trabalho, a incapacitação. A manterem-se a insuficiência de respostas, a luta vai continuar. Só pára quando o Governo valorizar a profissão, e perceber que está a perder professores” garante o dirigente sindical. Que diz ser preciso “atrair jovens para a profissão.”

Mário Nogueira não tem dúvidas que a greve “é que está a fazer com que o Ministério da Educação mantenha a negociação. Quando parar, irá fazer o que quer, que é colocar o pé em cima do pescoço dos professores.”

Na Rotunda do Operário, entre várias dezenas de colegas, está Anabela Guerreiro, 51 anos. Professora há 27 anos, lembra que destes, “20 estive longe das minhas filhas, e só aos 47 anos é que efectivei. Aqui está denunciada a precariedade da nossa carreira” afirma esta docente que exerce a actividade em educação especial na escola básica de São Domingos.  “No meu caso o que reivindico é o tempo de serviço. Estive longe da minha família, e fiquei com uma perspectiva de carreira que foi gorada. Também os nossos colegas mais novos não têm qualquer atractividade em ingressar na carreira. Qualquer dia, temos uma escola vazia, sem professores com competência para ensinarem os futuros líderes deste País” afirma.

“Parabéns Governo. Conseguiu juntar os professores”

A seu lado, Maria do Céu Borges, 58 anos, também na educação especial do Agrupamento de Escolas a Lã e a Neve, lembra os seus 35 anos de serviço em que, muito do que fez, “foi por amor à camisola”. “A escola só funciona por isso e porque os docentes dão muito de si. Temos horário de entrada, mas não temos de saída. Em qualquer empresa ou profissão, as horas a mais são remuneradas, ou o tempo compensado, mas nós não temos nada disso” garante, lembrando que muitas vezes entra na escola à oito e meia da manhã, mas sair, muitas vezes, por volta das 21. Ou até mais. “Porque temos reuniões, ou temos vários cargos e acabamos por ser um bocadinho reféns da escola actual. Estimem os professores que existem para conseguir cativar os próximos” aconselha.

A docente, contudo, dá os “parabéns” ao Governo. “Congratulo os nossos ministros, o senhor primeiro-ministro, ministros da educação e finanças, todo um Governo, pelo feito que conseguiram. Conseguiram juntar os professores a nível nacional. Tenho uma grande experiência de luta, toda a vida lutei e nunca vi semelhante união. Temos que os parabenizar pelo grande feito. Queria, no entanto, fazer-lhes um pedido: que estimem a classe docente, pois além de outras, somos uma classe muito especial, os pilares de um País. Se os professores não estiverem motivados, não poderão motivar os alunos e futuros profissionais, muito menos cativar colegas para virem para carreira” garante.

Durante a manhã, repetidas vezes os professores garantiram que “não paramos” e exigiram “respeito”. “Os problemas não podem continuar a avolumar-se da maneira como estão, sem qualquer solução. É isso que exigimos: respeito e resolução de problemas, porque senão a luta não vai parar”, garante Dulce Pinheiro, dirigente sindical da FENPROF.

A greve nacional, iniciada na semana passada e com “prazo” de 18 dias úteis, até 8 de Fevereiro, já passou por Lisboa, Aveiro, Beja, Braga, Bragança e na segunda-feira, Castelo Branco. Depois do distrito, o protesto avança para Coimbra, Évora, Faro, Guarda (sexta-feira, 27), Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Porto, culminando no dia 11, em Lisboa, numa grande manifestação nacional de professores e educadores

Esta greve dos professores foi convocada por oito organizações sindicais: Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Pró-Ordem dos Professores – Associação Sindical/Federação Portuguesa dos Professores, Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados (SEPLEU), Sindicato Nacional dos Profissionais de Educação (SINAPE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU).

 

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