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Rádio do concelho de Belmonte pode se calar

Os dois funcionários da Rádio Caria não recebem há quase três meses. A estação também terá dívidas à Segurança Social e Finanças

“Há mais de dois anos que pagamos para ir trabalhar. A rádio está, há muito tempo, em falência técnica”. Foi este o alerta deixado na passada quarta-feira, 28 de fevereiro, aos deputados da Assembleia Municipal de Belmonte pelo animador da Rádio Caria, Sérgio Gomes, que foi ao órgão denunciar a situação periclitante em que se encontra a única emissora do concelho. Segundo ele, para pagar todas as dívidas, 30 mil euros “não deverão chegar”.

Segundo este, apesar de, a muito custo, a emissora ter conseguido renovar agora a sua licença radiofónica até 2029 (a Câmara terá disponibilizado 5500 euros para o efeito) não é certo que, num futuro próximo, os ouvintes voltem a escutar música ou informação na frequência 102,5 fm. Sérgio Gomes disse que desde 2019 que a entidade proprietária, a Associação Cultural e Recreativa de Caria, não reúne em assembleia geral de sócios (que está marcada para a próxima terça-feira, 12) e que há já “quatro anos que estamos à espera de uma reunião com o nosso patrão”, neste caso, o presidente da direção da Associação, Luís António Almeida, também deputado municipal pelo PS, que ouviu as queixas, mas nada disse. O animador elogiou o apoio dado pela Junta de Freguesia de Caria, que é dona do imóvel onde está a rádio, e que assegura não só espaço, de forma gratuita, como a própria limpeza, e acusou “o patrão” de “fechar a porta” a outras ajudas que a autarquia estaria disponível a dar. Sérgio Gomes disse mesmo que em julho de 2023 a junta adiantou verbas (cerca de 4400 euros) para algumas situações de tesouraria mais prementes, como os ordenados dos dois funcionários (ele e mais um jornalista) da rádio, que estão de novo com ordenados em atraso, desde dezembro de 2023. Nessa altura, terão sido pagos metade dos mesmos, e desde aí até agora, mais nada. Ou seja, caso fevereiro ainda não tenha sido pago, estarão com dois meses e meio de ordenados em atraso, além de subsídio de natal. “As nossas filhoses, no Natal, não tiveram ovos” ironizou, apontando para uma dívida conjunta aos dois funcionários, de mais de cinco mil euros.

Segundo o radialista, à Segurança Social, a dívida da estação será superior a 15 mil euros, tendo havido nos últimos anos diversos planos de pagamento de dívidas em atraso, e até às Finanças haverá dinheiro a haver, nomeadamente, o pagamento do IVA. “Sei que toda a comunidade está solidária. Poderá mesmo surgir uma ação solidária com a rádio. Se a situação não se resolver, se não ouvirem música a passar, algo aconteceu” avisou Sérgio Gomes, que lembrou que este é um meio de comunicação pequeno, que não chama a atenção “de televisões” pois não pertence “a nenhum grupo grande”, aludindo à situação vivida recentemente pela TSF.

O presidente da Junta de Freguesia de Caria, Sílvério Quelhas, lembrou a importância da rádio, que é “um símbolo da freguesia, do concelho e da região”, e disponibilizando a ajuda possível disse que “a rádio não pode cair, faz parte de nós”.

Pelo PSD, António Cardoso Marques lamentou a situação, e disse que é preciso uma solução que dê mais independência à estação.

Paulo Borralhinho, vice-presidente da Câmara, natural de Caria, lembrou a criação da rádio, “ao pé da minha casa”, na altura como rádio amadora, a Toca da Moura, com a qual ainda colaborou. “É algo que me preocupa, tem uma importância muito grande. Custa-me ver a rádio nesta situação” disse, remetendo para a hipótese de Câmara, Junta e Associação reunirem para se encontrar uma solução. “Tenho a certeza que se irá manter” vaticinou.

O NC procurou, no final da assembleia, ter a posição do presidente da Associação Cultural e Recreativa de Caria, Luís António Almeida, que, contudo, declinou qualquer comentário.

Recorde-se que no próximo dia 14, em todo o país, está convocada uma greve de jornalistas contra, entre outras situações, a precariedade no trabalho.

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