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Reabertura do troço Guarda/Covilhã “deu vida”, mas “ainda não chega”

Assinalaram-se no passado dia 2 de maio três anos desde que reabriu o troço que liga a Covilhã à Guarda. Na Benespera, o comboio passou a parar, e foi criada uma associação que tem lutado por dar vida à estação, com iniciativas que procuram dinamizar o “andar de comboio”

Na junta de freguesia da Benespera, distrito da Guarda, localidade que fica paredes meias com o concelho de Belmonte, a exposição colocada no passado dia 2 de maio não deixa dúvidas: “We love trains”. De facto, se nos últimos anos tem havido um povo que tem procurado demonstrar que “adora” comboios, é o dessa pequena aldeia, com pouco mais de duas centenas de habitantes que, contudo, tudo tem feito para valorizar e dinamizar a Linha da Beira Baixa. Muito por culpa da Associação Move Beiras, constituída em abril de 2022, pouco antes de se completar um ano desde a reabertura do troço Covilhã/Guarda.

A data (2 de maio de 2021) foi lembrada no passado dia 5, naquela estação, com uma tarde de animação com um grupo de cantares da Guarda, e um lanche convívio, aberto à população. Mas a Move Beiras, ao longo dos últimos dois anos, tem realizado imensas atividades, desde passeios, viagens ao zoológico, concertos nas estações, encontros de escuteiros, enfim, um rol de iniciativas para que o comboio leve e traga pessoas à aldeia, justificando assim uma paragem que, inicialmente, nem estava prevista. “Há linhas que nos unem e uma região que nos move” é o lema defendido pela associação.

Filipe Santos, presidente da Move Beiras, é descendente da aldeia. Com a pandemia, deixou Almada, onde nasceu, e Lisboa, onde trabalhava, para o fazer em teletrabalho, na pequena aldeia. E manteve isso até aos dias de hoje: reparte o tempo de trabalho entre Lisboa, em termos presenciais, e a Benespera, remotamente. Três anos depois da reabertura do troço que liga as duas cidades da Beira Interior, não tem dúvidas que este retomar dos comboios nesta zona foi uma mais-valia. “Sem dúvida que trouxe mais vida, mais movimento. Agora, se me perguntar se chega? Digo que não. Continua a faltar um serviço adequado. Não há comboios nos horários que as pessoas que, por exemplo, trabalham na Covilhã ou Guarda, precisam. Que rentabilizem o comboio e o tornem atrativo. Se os horários não são funcionais, não tem utilizadores. Se não tem utilizadores, não é rentável e depois acaba. É uma pescadinha com o rabo na boca” frisa o responsável da associação.

Filipe lembra que ouve muitas vezes responsáveis políticos falarem em coesão territorial, mas que esquecem que, se as pessoas dos sítios mais recônditos não tiverem as mesmas possibilidades que as gentes das grandes urbes, ela não existe. “Há territórios que precisam destes serviços para dar vida às comunidades. Temos tentado fazê-lo” frisa, lembrando que as comemorações da data demonstram a “união e vontade da população da Beira Interior, demonstram a ligação que têm ao comboio, este que é o meio de transporte sustentável”

Lembrando que houve, na região, quatro entidades, como juntas de freguesias (por exemplo do Tortosendo), que aportaram contributos ao Plano Ferroviário Nacional, Filipe recorda que também a associação juntou, antes das recentes legislativas, deputados dos distritos da Guarda e Castelo Branco, para lhes fazer ver da necessidade de se investir mais na Linha da Beira Baixa. “Nas mercadorias, se a Guarda vai ter um porto seco, porque não se criam mais parques intermédios? Depois, a aposta num verdadeiro serviço regional, faria todo o sentido, não só entre a Guarda e Covilhã, mas também até Castelo Branco ou Vila Velha de Ródão. E depois, é preciso diminuir o tempo de viagens, dando mais rapidez aos comboios e a quem o usa” afirma.

Filipe Santos diz que também em termos turísticos a linha está subaproveitada. E dá exemplo. “Antigamente havia o comboio das Beiras, que foi um sucesso. Agora a CP está a começar a apostar no comboio Vintage do Tejo. É muito bom, mas é insuficiente. É verdade que é uma paisagem magnífica, mas poderia ser realizado mais vezes, e ser prolongado até à Guarda. Não me digam que as cerejeiras em flor, no Fundão, ou a neve na Serra da Estrela, não são suficientemente atrativas à vista dos turistas” questiona o presidente da Move Beiras.

Certo é que promete continuar a dinamizar atividades que façam da utilização do comboio uma mais-valia. E garante que a população da “Capital Ferroviária” da Linha da Beira Baixa não deixará também de o fazer. Para já, a plataforma onde se espera que continue a parar os comboios, regionais e Intercidades, está mais bonita, uma vez que ali foram plantadas oliveiras em sete vasos que foram recuperados de outras utilizações ferroviárias.

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