A Câmara da Covilhã aprovou hoje uma proposta de resgate da concessão da exploração e gestão do serviço de saneamento em alta do concelho e a autorização para contrair um empréstimo de 5,8 milhões de euros para pagar a operação.
O empréstimo será para pagar em onze anos, com a possibilidade de um período de carência de três anos.
As duas propostas contaram com o voto contra dos três vereadores da oposição, que criticaram a maioria por só terem tido acesso à documentação 72 horas antes da votação, quando o processo decorre há três anos, devido à “omissão de documentos e análises”, por não estarem certos das consequências da decisão para o futuro dos covilhanenses e por questionarem a postura do executivo ao longo dos anos.
Um dia depois de a concessionária do saneamento em alta na Covilhã, a Águas da Serra (AdS), ter afirmado que a intenção do município é ilegal e que implicará o pagamento de uma indemnização de 18 milhões de euros, o presidente da autarquia, Vítor Pereira, garantiu estar “absolutamente seguro” de que não existe qualquer ilegalidade na operação.
Segundo Vítor Pereira, o município teria de pagar ao parceiro privado pelos restantes 11 anos da concessão 52 milhões de euros, enquanto a reversão rondará os 5,8 milhões de euros.
“Poderá ser menos, poderá ser um bocadinho mais, mas desconfio que pode ser um pouco menos”, disse o presidente da Câmara da Covilhã, no final da sessão, aos jornalistas.
De acordo com o autarca, eleito pelo PS, a maioria esgotou “todas as hipóteses” de chegar a um acordo e “todos os esforços foram feitos” para evitar o resgate.
“Tentámos todas as vias amigáveis”, afiançou Vítor Pereira, uma afirmação de que a oposição duvida, invocando documentação do processo.
A AdS tem a concessão do saneamento na Covilhã desde 2005, um negócio feito por um período de 30 anos, por 70% do capital, com a possibilidade de resgate a partir dos 18 anos, cumpridos em abril de 2023, e o edil covilhanense assegurou que o município foi “diligente”.
Vítor Pereira tornou hoje público um memorando, assinado com a AdS em setembro de 2023, em que era feito um aditamento ao contrato que reduzia a tarifa do saneamento e previa acertos contratuais, mas a empresa terá recuado em janeiro.
Sobre o alerta da AdS de que o resgate é ilegal e a ameaça de agir judicialmente, o presidente da Câmara da Covilhã entendeu que o comunicado emitido pela empresa um dia antes da votação foi uma tentativa “intolerável de condicionar” os eleitos e uma “cortina de fumo para esconder muita coisa aos acionistas japoneses”, acrescentando que prevê que a administração “vai levar uma vassourada”.
Vítor Pereira disse que a nota da empresa se tratou de uma ameaça, por se sentir “acossada”, por lhes estar “a fugir entre os dedos uma importante concessão”.
“Estamos a tirar do seu rico mealheiro a galinha dos ovos de ouro que os covilhanenses andaram a engordar”, frisou o presidente.
O vereador da coligação CDS/PSD/IL Pedro Farromba advertiu para as “consequências desastrosas” que podem advir para o município e justificou o voto contra por, com a informação em mãos, não ser possível “formar um juízo de valor em consciência”.
Vítor Pereira respondeu que mau seria continuar a atual situação e “os covilhanenses continuarem a ser espoliados”.
Pedro Farromba argumentou que o valor de 5,8 milhões foi “calculado unilateralmente” e “não tendo havido negociação, e a empresa não concordando, seguir-se-á seguramente uma longa batalha judicial com consequências inquantificáveis, seja do ponto de vista financeiro, seja do ponto de vista da qualidade do serviço, saindo prejudicados os covilhanenses”.
A oposição salientou não se vislumbrar nenhum esforço negocial por parte da autarquia na documentação disponibilizada, associou às eleições “a urgência” em tomar a decisão, antes de uma audiência prévia ou do parecer da entidade reguladora, e questionou sobre o investimento necessário na rede e os recursos humanos necessários.
Pedro Farromba acrescentou que Vítor Pereira quer impor um “resgate que vai hipotecar o futuro do município” e “que pague quem vier”.
A deliberação tem agora de ser ratificada em Assembleia Municipal, onde o PS tem maioria.