Resistentes da Covilhã perpetuados no Pelourinho

Monumento evoca todos os que lutaram e sofreram pela liberdade

Foi inaugurada na sexta-feira, dia em que se assinalaram os 51 anos do 25 de Abril, na Praça do Município da Covilhã, um conjunto escultórico de homenagem “aos covilhanenses que lutaram e sofreram pela liberdade”, com oito peças, uma de cor verde e sete em vermelho que invocam sete palavras “para celebrar Abril”: revolução, povo, liberdade, democracia, paz, igualdade e progresso.

José António Pinho, várias vezes preso pela polícia política e membro da oposição democrática durante o Estado Novo disse que a peça tem para si “um significado muito especial”, que nela cabem todos os resistentes e famílias e considerou que não representa apenas o passado, mas o futuro para o qual se deve olhar, tendo como referência o que foi o passado.

“O passado é importantíssimo, porque sem passado é impossível haver presente. Isto é um baú da memória”, referiu Pinho, segundo o qual o monumento, localizado num espaço onde os oposicionistas muitas vezes se juntavam para falar, também apela para as palavras proferidas por si, dia 26 de Abril de 1974, na varanda da Câmara Municipal: “à tranquilidade, ao respeito, à compreensão”.

Por suspeita de atividades subversivas, e sem nunca ter ido a julgamento, o então bancário José Pinheiro da Fonseca foi privado de liberdade, salienta que a peça está “no local mais nobre da cidade” e espera que quem no futuro quem passe por este trabalho “modernista” se questione sobre as suas motivações e “pensem nas razões da sua ereção”.

Para o presidente do município, Vítor Pereira, esta foi uma forma de “honrar, engrandecer, homenagear todos quantos lutaram pela liberdade, gente corajosa que se destacou no combate ao antigo regime”.

A intenção foi “fazer-lhes justiça, na medida do possível”, simbolizando “o espírito e garra dos covilhanenses”, num concelho que “sempre foi terra de luta, de resistência e de coragem”. Até chegar o dia da revolução, “não se podem esquecer todos os que antes já lutavam por um país livre e democrático”.

“Aqui era uma zona de luta, porque todas as fábricas eram sítios ideais para a organização, para as organizações sindicais”, lembrou João Casteleiro, presidente da Assembleia Municipal, para quem “o povo covilhanense sempre lutou arduamente por melhores condições de vida, por mais liberdade e mais justiça social”.

João Casteleiro enfatizou que a revolução era uma questão de tempo e que a peça escultórica “simboliza a comunhão entre as pessoas, porque todas necessitavam dessa liberdade”, sendo que homenageia os conhecidos e os muitos anónimos que construíram Abril.

A presidente da Comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, Elisa Pinheiro, referiu que foram feitas muitas iniciativas, sobretudo de natureza mais efémera, e que o conjunto escultórico “procura perenizar os princípios da revolução de Abril”.

Na peça, acentuou, cabem não apenas quem esteve preso, mas também outras vítimas do antigo regime e “todos os familiares que sofreram na pele as restrições decorrentes do castigo que sofreram estas pessoas que lutaram pela liberdade”.

Jorge dos Reis, o autor, natural de Unhais da Serra, explicou que o conjunto escultórico que concebeu é uma homenagem “a quem preparou para os militares o caminho para a democracia”.

A opção pela transparência visa permitir ver o edifício da Câmara Municipal, as letras estão também associadas às formas circulares das arcadas e escritas numa fonte criada para o efeito a que foi dado o nome Alfabeto Salgueiro Maia/ Covilhã. Os recortes dos painéis são inspirados graficamente no edificado da Covilhã, onde predominam as fábricas.

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