Quando David Gouveia, de 24 anos, entrou na pista de gelo das Penhas da Saúde no último sábado, 6, para pela primeira vez competir no Campeonato Nacional de Patinagem Artística no Gelo, as bancadas não foram suficientes para acolher, entre espetadores e restantes atletas, quem quis ver uma exibição não habitual num recinto sem as medidas oficiais. Os saltos no ar triplos, os deslizes sem hesitação, os piões velozes e os passos encenados elegantes causaram um burburinho e manifestações de surpresa.
O vencedor masculino, único a competir na elite, treina na Suíça, onde vive, mas na bancada tinha, orgulhosos, os avós, Maria José e Augusto, que se deslocaram de táxi do Barco para, pela primeira vez em Portugal, verem as proezas do neto covilhanense, atleta do programa olímpico da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP) que, para já, a recuperar de uma lesão, procura voltar a conseguir o apuramento para o campeonato europeu.
Habituado a pistas com tamanho olímpico, a competir a outra velocidade e a fazer saltos mais complexos, destacou a dificuldade em adaptar o programa ao recinto, mas frisou a felicidade de competir em casa, de conhecer os restantes atletas e elementos da federação e de, eventualmente, servir de inspiração aos mais de vinte atletas a dar os primeiros passos na modalidade, a maioria com as cores do Ice Clube da Covilhã.
É o caso de Lucília Reis, de 13 anos, natural de Lisboa, de onde se desloca aos fins de semana, para treinar na Academia da FDIP. Percebeu nas pistas montadas pelo Natal que gostava de patinar no gelo e, quando soube que tinha essa possibilidade na Serra da Estrela, federou-se. Há pouco mais de dois anos “sabia andar para a frente”. A evolução é significativa. “Já sei fazer um ‘axe’, que é um salto no ar, e ‘spin’, o pião em baixo”, diz, entusiasmada, depois de ter tido o melhor desempenho no nível intermédio de juniores.
A patinadora comentou que as capitais dos outros países têm pista de gelo e salientou que os atletas em Portugal “devem ter as mesmas oportunidades”.
Carla Almeida foi a vencedora na principal categoria feminina a concurso, avançado adultos. É a diretora técnica da FDIP e lembra que, das quase 25 atletas em competição, quase todas “começaram do zero” há dois anos, quando iniciaram os treinos na Academia.
“Todas tiveram uma grande evolução. Desde os saltos simples ao ‘axel’. No ano passado faziam saltos com meia rotação, agora já fazem saltos com uma rotação ou uma rotação e meia. Ganharam muitas competências na patinagem, estão mais expressivas. Foi uma enorme progressão”, frisou a treinadora, rodeada de várias atletas que a ajudavam preparar o cabelo e a maquilhagem para a sua apresentação.
Para a diretora técnica, tendo em conta que têm treino acompanhado apenas uma vez por semana, a evolução foi “além” do previsto, mas alerta que para se dar o salto é necessário ter uma pista com dimensões oficiais e continuarem o caminho da formação.
O presidente da FDIP, Pedro Flávio, salientou os resultados do trabalho desenvolvido, que se traduziu, no terceiro campeonato nacional da modalidade, numa “evolução notória”. “Correu muito bem qualitativamente e quantitativamente”, vincou.
Pedro Flávio mencionou ainda o júri internacional, a preocupação em organizar a competição “de acordo com as regras da Federação Internacional de Patinagem” e a aprendizagem feita desde as provas anteriores. O tamanho da pista é uma limitação, reconhece, mas acrescentou que continuam os contactos para construir uma na zona da Grande Lisboa com as dimensões oficiais.