Carolina Troia
Fusão UBI/NC
Hoje, “800 mulheres morrem todos os dias ao dar à luz, (…) e quase uma em cada 10 mulheres não pode tomar as suas próprias decisões sobre contraceção”. A prevalência desta precariedade destaca-se no continente africano, onde as mulheres têm uma probabilidade cerca de 130 vezes maior do que as vizinhas europeias de morrer por complicações na gravidez e no parto.
A incidência das patologias ginecológicas está longe de estar bem representada. Cerca de 1 em cada 10 pessoas com útero sofre de Endometriose, que provoca episódios de dor incapacitante. Já a Síndrome do Ovário Poliquístico (PCOS) afeta entre 8 a 13% do mesmo grupo, das quais cerca de 70% permanecem sem um diagnóstico. Há sequelas derivadas de distúrbios hormonais que constituem um grupo de risco para uma panóplia de doenças. No tratamento destas doenças, o impacto que uma abordagem desleixada e impessoal tem num doente ginecológico é desumanizante. E vai muito para além do que conseguimos observar.
Ter um sistema reprodutor feminino é sinónimo de passar por um conjunto de transições que compreendem o seu nível de cuidado e atenção. As alterações hormonais que compreendem este período arrecadam um conjunto de sintomas que impactam desde a saúde física à saúde mental, acrescendo-se a perceção de que a menopausa significa a entrada na velhice.
Sendo uma transição que exige muito de quem a enfrenta, a menopausa é também um mar de desconhecimento para a maioria das mulheres. Desde as adaptações do estilo de vida à Terapia Hormonal de Substituição (THS), o acompanhamento desta etapa deve ser feito de forma adequada a cada pessoa. Ainda assim, a falta de informação, aliada à falta de disponibilidade do sistema de saúde, resultam numa gestão da saúde feminina que deixa muito a desejar.
Então, porque será que há tão pouca informação relativa à saúde das mulheres? Sabemos que são diagnosticadas mais tarde que os homens, que muitas permanecem por diagnosticar, e que pouco ou nada são informadas sobre o seu próprio corpo. Seria o dever de qualquer profissional de saúde expor e aconselhar sobre as implicações da doença em questão. No entanto, o tratamento proporcionado a estas pessoas fica muito aquém do expectável, questionando a dignidade de quem exige um direito fundamental.
Há muitas melhorias em vista, e espaço para o fazer. É urgente agir de forma mais rápida e eficaz. Não há vergonha em ser mulher, nem deve havê-la em tratar uma. E os padrões por que se rege a sociedade são construídos por cada um de nós.