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Sebastião Lopes: um guardião da memória

A.Pinto Pires

(Professor)

Sebastião Cabral Lopes, SL, nasceu na Covilhã em 1927, um dos cinco filhos do professor António Lopes, cidade onde viveu até à idade adulta, donde partiu para Lisboa, e se instalou até ao presente, onde vive com a sua filha Maria João Lopes, uma sketcher de assinalável valor, da qual falarei oportunamente.

Sebastião Lopes, por certo influenciado pelo pai, um eminente professor de desenho que durante 30 anos lecionou na Escola Campos Melo, não optou por uma carreira artística, acabando por se tornar num mestre das artes decorativas, profissão executada de forma exímia.

A sua última grande obra, traçada e delineada ao pormenor, foi a planificação até à execução final, da galeria de arte na cidade com o nome de seu pai, António Lopes.

E vale a pena determo-nos sobre a mesma para destacar toda a metodologia utilizada de forma precisa, até ao final, que tive o privilégio de acompanhar. Onde nada falhou e se concretizou conforme o projeto inicial por si delineado. Ao longo de várias semanas, a obra foi crescendo segundo a sua vontade. Recorde-se que inicialmente a galeria contava com duas salas expositivas onde se plasmou todo o percurso desenvolvido por seu pai. Foi uma metodologia respeitada até ao momento que a galeria passou a ter, e bem, um espaço de exposições temporárias.

Regressando a Sebastião Lopes, e tal como a maioria de muitos jovens da sua geração, frequentou diversos cursos na Escola Campos Melo, o que lhe forneceu toda uma bagagem que por certo o marcaram no seu percurso de vida, nesta cidade dos têxteis, onde granjeou tantos amigos.

Na sua juventude, e mais uma vez influenciado pelo pai, tornou-se um apaixonado da Serra da Estrela, sobretudo da neve e do esqui, tornando-se um excelente praticante dessa modalidade que ficou patenteada nos célebres painéis de azulejos colocados nas entradas da cidade, restando apenas o que se encontra numa parede junto de UBI, onde estão representados na parte superior do mesmo, os esquiadores, que em toda a figuração do painel se referem a pessoas reais.

Foi ainda um apaixonado da fotografia, aí também sob influência do pai, havendo alguma dessas fotos que se tornaram em autênticos ícones de decoração de diversos espaços públicos na cidade, como ainda hoje. Ainda no início da sua carreira, acompanhou o pai e avô materno nas lides da então fábrica de tapetes que chegou a existir junto à rotunda do Rato, pois esta faceta foi um dos aspetos bastante desenvolvidos por seu pai, tendo-se produzido obras de inqualificável valor, onde uma delas se pode apreciar na galeria anteriormente mencionada, já abordada em artigo anterior neste NC.

Uma vez na capital, onde dá asas à sua paixão e criatividade, como já referiu, acabando por se tornar num mestre de decoração de interiores, destaco um pormenor curioso bem ilustrativo da sua ligação à sua terra natal quando a dada altura foi preciso produzir uma quantidade significativa de tecidos da área algodoeira, habitualmente produzidos no norte do País. Não se subjugando a esse condicionalismo, se questionou a si próprio se na Covilhã não era possível produzir os ditos panos. Contactou, para o efeito, um grande amigo pessoal, Manuel Mesquita Nunes, que anuiu à ideia. E os mesmos foram produzidos na firma Cristiano Cabral Nunes.

SL é um excelente contador de histórias da nossa cidade que fui registando ao longo das dezenas anos em que fomos contactando. Tive o privilégio de o ter conhecido pessoalmente há mais de 30 anos, e fomos sempre arranjando motivos para desfiar tantas memórias que por certo nunca esquecerei. E foi desse conhecimento pessoal que surgiu a ideia de se criar a Galeria AL.

Registo ainda os relatos dos percursos pedonais da Nave de S. António até à Torre através do Espinhaço de Cão, aludindo à epopeia da concepção da Santa dos Pastores, outro caso a merecer desenvolvimento. Também da história do esqui, dos Dódós, e até das inúmeras provas realizadas sob os auspícios da neve. Um nunca acabar de surpresas.

Bem-haja Sebastião Lopes pelas memórias proporcionadas, que jamais esquecerei.

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