Serra da Estrela: três anos após o grande incêndio “quase nada foi feito”

Autarcas lamentam que apoios prometidos sejam, até agora, uma “mão cheia de nada”

Três anos após o grande incêndio que, em 2022, dizimou quase 25 mil hectares do Parque Natural da Serra da Estrela, o Plano de Revitalização da mesma, anunciado pelo Governo, é para já, uma “mão cheia de nada”. Pelo menos, é essa a opinião de alguns autarcas da região.

O Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE) foi criado pelo Governo em fevereiro de 2024, com a dotação de 155 milhões de euros (ME), e tinha como objetivo contribuir para “o desenvolvimento económico e social da região” afetada pelos incêndios do verão de 2022. Porém, segundo o presidente da Associação de Municípios do PNSE, criada para acompanhar a implementação do Plano, até agora além de reuniões com membros do Governo e da CCDRC [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro], pouco mais aconteceu. Luís Tadeu, que está de saída da liderança do município de Gouveia, diz que os municípios abrangidos irão propor uma nova reprogramação do PRPNSE, porque os timings, valores e alguns projetos estão há muito ultrapassados. Tadeu garante que até agora nada foi candidatado e espera desenvolvimentos positivos de uma reunião ainda a agendar com o Governo, até porque afirma ser importante perceber se é ele que comparticipa a componente nacional dos projetos, ou se serão os municípios a suportar parte dos apoios comunitários.

Em Manteigas, o autarca local, Flávio Massano, reeleito para mais um mandato, diz que a conclusão “nua e crua” é que “não existe dinheiro” para financiar o Plano. “Inicialmente, continha cerca de 155 ME, mas esse montante e as fontes de financiamento identificadas não existem. Os governos que se seguiram têm procurado enquadrar esse valor, só que o que nos têm dito é que os quadros europeus estão esgotados”, afirma à Lusa. Três anos depois das chamas, “estamos num impasse” e “quase nada foi feito, a não ser coisas já aprovadas pelos municípios antes do fogo”. “No Orçamento de Estado de 2025 tínhamos 1,5 ME para a Serra da Estrela. Já demos ao Governo um conjunto de investimentos, como estudos e projetos, nesse valor para esgotar a verba este ano, mas ainda não temos resposta”, critica. “A Serra da Estrela é uma das maiores áreas protegidas do País. Temos uma data de valores e de ações que eram fundamentais e ainda não fizemos nada do estipulado. Pior do que isso, é que não temos noção de quando é que poderemos vir a fazer alguma coisa”, lamenta o autarca manteiguense.

Em Seia, o presidente reeleito, Luciano Ribeiro, afirma que muitas expectativas foram defraudadas e perdeu-se a confiança dos cidadãos no Estado. “O interior e a Serra da Estrela, em particular, estão sempre na ponta da língua e perto do coração. Mas sempre muito longe do pote. Há coisas mais simples que não se vislumbram caminhos para acontecerem”, acusa, garantindo que os municípios do PNSE estão unidos para exigir do poder central “o que nos é merecido”.

Já na Guarda, o também reeleito Sérgio Costa garante que o município tem vários projetos prontos, entre eles a Estrada Verde, uma via turística que ligará a cidade ao maciço central da Serra da Estrela, elaborada em conjunto com as câmaras de Celorico da Beira e Gouveia. “Os municípios fizeram a sua parte. Agora, cabe ao Governo dizer a que candidaturas podemos concorrer ou quais os fundos disponíveis” para estas intervenções – “não podemos esperar três ou quatro anos pelos apoios prometidos e hipotecar as nossas finanças”.

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