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Sócrates, esse craque

Não era conhecido por “engenheiro”. Era “doutor”. E dos que tinha “canudo”. Mesmo “à séria”. Numa vida ocupada com treinos e as exigências do futebol profissional, Sócrates, famoso futebolista brasileiro da década de 80, conseguira, mesmo assim, tirar medicina. E a alcunha ficou-lhe para sempre.

Era um craque. Capaz de fintar qualquer adversário que lhe surgisse no caminho, de assistir companheiros para golo, com passes a 30 metros ou de calcanhar, uma das suas especialidades. Sócrates, que depois teria outro irmão que se notabilizaria na arte de enganar adversários, Raí, era tudo isto. Dentro das quatro linhas, ninguém “lhe fazia a folha” e, esguio, conseguia escapar a todos. Ou quase todos.

No futebol, a arte de enganar é aquilo que define o atleta “super”, a “estrela”, do mediano. Na selecção do Brasil do Mundial de 82, recheada de valores com Luisinho, Cerezo, Falcão ou Zico, o “doutor” era aquele que mais se destacava pela inteligência com que jogava. Foi classificado, em 2015, pelo jornal britânico The Guardian, com um dos seis desportistas mais inteligentes do planeta. Fora do futebol, Sócrates sempre manteve uma activa participação política, tanto em assuntos relacionados ao bem-estar dos jogadores quanto aos temas correntes do País. Foi uma das personalidades que influenciou a realização de eleições directas para as presidenciais.

Foi comentador, jornalista, passou pelo teatro e pela televisão, onde ainda participou numa telenovela. A arte de representar sempre esteve presente nele. Quer, em campo, quando conseguia simular um passe para um lado e enviava a bola para o outro, quer na vida. Só que, nesta, como qualquer comum dos mortais, Sócrates caiu em desgraça. A vida dele não foram só “rosas”. O alcoolismo tomou conta dele, e associada a essa dependência, começaram a surgir outros problemas de saúde, que, em 2011, o acabaram por matar, após uma suposta intoxicação alimentar se ter agravado num quadro de infecção generalizada. Incorruptível, não quis passar por cima de ninguém. “Não tenho nada contra transplante cardíaco, de rim, de pâncreas, de fígado ou qualquer outro. Só que é o seguinte: eu tenho de estar na lista. Se eu estiver na lista, eu não furo fila não. E eu não estou em nenhuma lista dessas” disse o jogador que tinha habilidade para enganar todos dentro de campo, mas recusava ludibriar outros cidadãos.  Foi há quase dez anos que faleceu, mas a memória deste Sócrates, não prescreveu. Nem nunca prescreverá para os amantes do desporto rei, por muito tempo que passe.

“O título é efémero. Amanhã começa outro campeonato, que será muito mais difícil de ganhar, porque ninguém ganha tudo sempre. O que vale é a paixão, independentemente das conquistas” disse o doutor que se notabilizou, em especial, no futebol brasileiro. Com experiência efémera em Itália, na Fiorentina. Sem grande sucesso.

Por Portugal, nunca passou, e nunca festejou no Marquês. Ele era mais para outro tipo de “operações”, como médico diplomado que se preze. Um Sócrates artista, craque, dos que ficam na memória.

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