O Sporting da Covilhã, único clube da II Liga de futebol sem a gestão de uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD), quer avançar para esse modelo por entender ser esse “o caminho” para abrir a porta a investidores, ter uma maior capacidade financeira, tornar a equipa mais competitiva e ser a única via para conseguir regressar ao principal escalão do futebol nacional, daí, caso a proposta seja aprovada, a intenção de vender 80 % das ações a terceiros e permitir a subscrição de até 10 % aos sócios.
Na participada sessão de esclarecimento na noite de quarta-feira para discutir a transformação da Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ) em SAD, na presença do advogado do clube, do revisor oficial de contas e do técnico oficial de contas, que responderam a muitas das dúvidas levantadas pelos cerca de 60 sócios presentes, o presidente, José Mendes, admitiu ter ao longo dos anos evitado esta solução, mas manifestou ter “deixado de resistir”, fazendo menção aos orçamentos muito superiores das restantes equipas e à impossibilidade de os serranos acompanharem esses investimentos.
A assembleia geral extraordinária para votar a decisão está agendada para esta quinta-feira, no Auditório Municipal, às 20:30, com início previsto 30 minutos depois caso à hora marcada não estejam presentes a maioria dos sócios.
Sem SAD subida não é possível
“Quase 19 anos chega para mostrar o que já fiz. Só me falta, como presidente, subir o clube à I Liga, cheguei à conclusão que não consigo e, por isso, avançamos para a SAD, ou então, esqueçam, nunca mais lá vamos chegar”, vincou José Mendes.
O dirigente serrano, de 64 anos, mencionou a actual dificuldade em recrutar jogadores de qualidade a preços acessíveis e em conseguir a cedência gratuita de futebolistas, como acontecia no passado, devido à criação das equipas B e sub-23, acrescentando que o clube não vai gastar mais do que tem.
“Quero deixar o clube numa situação tranquila para atingir a I Liga, porque se não fizerem SAD, não tenham dúvidas nenhumas que nunca mais lá vão chegar. Não há ninguém que consiga lá chegar sem investimento, porque é uma loucura”, continuou o presidente, fazendo referência ao Alverca, de um escalão inferior, com quem o Covilhã disputou o play-off, com um orçamento de “quatro milhões”, cerca de três vezes mais do que os ´leões da serra`.
Até 10 % da acções para sócios
A proposta a votar na noite desta quinta-feira, 29, prevê a criação de uma SAD com um capital social de 250 mil euros e, além dos 10 % de que o clube legalmente terá de ser detentor, serão vendidas aos sócios até 10 % das acções.
Caso a proposta seja aprovada, os sócios podem subscrever, entre 02 e 09 de Janeiro, até cinco mil acções, a cinco euros cada, num total de 25 mil euros, tendo prioridade os associados mais antigos e, para ter direito a um voto, são necessárias 50 acções.
Perante as questões levantadas, foi garantido que, caso os investidores revendam as suas ações, o clube fundador tem direito de preferência e o emblema serrano tem de votar os aumentos de capital. O símbolo, o local onde a equipa joga são aspectos também “salvaguardados” e o presidente mencionou a intenção de passar o autocarro para a propriedade do clube antes de ser criada uma SAD. O advogado acrescentou que “o clube nunca será devedor” da SAD.
O milhão e 151 mil euros que a SDUQ deve ao clube vai ser englobado no capital social da SAD, caso seja essa a vontade dos sócios,
“Não há milagres”
O presidente sublinhou ter rejeitado ao longo dos anos esse modelo de organização, mantendo o clube a totalidade do capital da SDUQ, mas frisou que o Sporting da Covilhã é o único clube da II Liga sem SAD, que o investimento dos outros clubes é muito superior e disse ter concluído ser esse “o caminho” para conseguir ter uma equipa competitiva.
“Os sócios reclamam uma equipa para subir à I Liga, reclamam uma boa equipa, mas não há milagres. O Sporting da Covilhã não tem condições, neste momento, para contratar jogadores de qualidade para fazer face à II Liga em que atualmente estamos”, referiu José Mendes, aludindo aos orçamentos superiores dos outros clubes.
Embora tenha garantido não ter “negócio com ninguém”, o dirigente serrano adiantou já ter sido contactado por investidores cerca de “uma dúzia de vezes”, as duas últimas na semana passada, e acrescentou que os ´leões da serra` são “um clube apetecível para muita gente, até porque não tem dívidas”, mas sem a constituição de uma SAD não é possível a entrada desse capital.
José Mendes informou durante a sessão, no Auditório Municipal, ter recebido nos últimos dias a visita de potenciais interessados, da Venezuela e da República Dominicana, mas acentuou não existir “pressa de nada” e que “a SAD não está à venda por qualquer preço”.
O presidente do emblema há mais anos consecutivos a disputar o segundo escalão do futebol nacional, atualmente último da tabela classificativa, enfatizou faltar-lhe subir o clube à I Liga e ter chegado “à conclusão que assim não é possível”.
Segundo José Mendes, o plantel precisa de mais cinco ou seis reforços, mas vincou que o clube não vai gastar mais do que pode e que a qualidade desses jogadores está dependente de ter mais recursos financeiros.
“Tenho intenção de pedir dez milhões”
“A minha preocupação é não deixar cair o clube na III Liga e ir a tempo de podermos contratar jogadores”, reforçou o dirigente, que mencionou a intenção de “pedir dez milhões de euros” pelos 80 % das acções a vender a terceiros, embora tenha ressalvado que tudo “depende do negócio” que for feito e das variáveis em equação.
Perante as muitas dúvidas levantadas pelos sócios, José Mendes garantiu que “tudo o que é do clube, fica no clube”, que o património imobiliário do Sporting da Covilhã não pode transitar para a SAD e que o encaixe financeiro vai permitir melhorar as condições, nomeadamente da formação e das infra-estruturas.
Olhar para o que correu bem e mal em outros clubes
De acordo com o advogado dos serranos, João Martins, há cláusulas de salvaguarda para “blindar” os direitos do clube fundador.
“Temos de ter muito cuidado com quem vamos negociar e quem são os investidores que vão entrar, até porque já temos uma visão do que os outros fizeram. Podemo-nos apoiar no que foi bem e mal feito nas outras sociedades”, argumentou José Mendes.
Questionado sobre o assunto, o dirigente clarificou que “quem vai mandar é quem compra a maioria”.
A direcção acrescenta que, além de permitir a entrada de terceiros no capital da sociedade, com a ambição de melhorar os resultados desportivos, a alteração na orgânica da gestão do clube também vai permitir “profissionalizar departamentos” que hoje “dependem do voluntarismo” de dirigentes.
Segundo a proposta a apresentar, a SAD terá um Conselho de Administração com um mínimo de dois administradores executivos a tempo inteiro.