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Mães do tempo da telescola veem os filhos ter agora aulas pela televisão

A mãe de Dina Brito fez o ensino na telescola, eram ainda os conteúdos transmitidos em directo, à tarde, pela RTP, enquanto os alunos acompanhavam as matérias na sala de aula, na presença do professor. Foi também através deste método de ensino que a técnica de acção educativa, de 35 anos, fez o 5.º e 6º anos, em Sobral de São Miguel, já através de videocassetes. Estava longe de imaginar que o filho mais velho, Guilherme, a frequentar o primeiro ano, ia passar pela experiência do ensino à distância.

Na próxima segunda-feira, 20, no canal RTP Memória, começam as emissões, entre segunda e sexta-feira, do #EstudoEmCasa, para alunos até ao nono ano de escolaridade. Uma espécie de nova telescola a funcionar enquanto a pandemia provocada pela covid-19 não permite a reabertura das escolas.

Cada aula tem a duração de 30 minutos, os blocos são divididos em função do nível de ensino e este recurso, através da televisão, para tentar chegar a mais gente, vai ser complementado com sessões de grupo em plataformas digitais. Para quem não tem acesso a equipamentos informáticos ou acesso à Internet, as escolas informam que vão fazer os documentos chegar aos alunos em papel.

“Pode resultar temporariamente”

“Pode resultar temporariamente”, antevê Dina Brito, que tem “excelentes memórias” dos seus tempos de telescola, mas sublinha que, na altura, tinham o acompanhamento presencial do professor e a companhia dos colegas na sala.

“Se fosse o método que eu tive, em sala de aula, não estava tão apreensiva. Em casa não sabemos como vai funcionar, como vão manter o nível de atenção, porque nós tínhamos o adulto na sala, não havia dispersão, todos fazíamos o mesmo. Em casa, tenho receio que perca o interesse”, receia Dina Brito, a poucos dias de o filho de sete anos começar a nova experiência, mais de um mês depois de as escolas fecharem devido à doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Carina Rocha, 37 anos, natural de Peraboa e residente em Cantar Galo, também andou na telescola, quando já tinha a designação Ensino Básico Mediatizado, ou seja, através das cassetes que viam no televisor da escola. Aquilo que já parecia um passado longínquo, voltou à memória e tem suscitado a curiosidade de algumas pessoas, como dos filhos, de sete e dez anos, que perguntam como funcionava e querem saber pormenores.

A tesoureira tinha dois professores. Um para a área das ciências, outro no campo das línguas. Ao intervalo, trocavam. As cassetes eram passadas com a matéria do dia e os docentes aprofundavam os conhecimentos, com o apoio de fichas e manuais. Quando passou para o sétimo ano, na Covilhã, Carina Rocha, apesar do desconhecimento de muitos dos novos colegas sobre o tipo de ensino que frequentou, nunca achou que estivesse mal preparada.

Os filhos de Carina Rocha, que frequentou o ensino mediatizado em Peraboa, vão agora ter aulas à distância e têm mostrado interesse pela experiência da mãe.

“Uma boa solução” em tempos de pandemia

Com as crianças em casa há mais de um mês, o #EstudoEmCasa parece-lhe “uma boa solução” para ajudar no ensino durante o terceiro período, que teve início na última terça-feira, 14, embora com algumas reticências sobre a operacionalização e a forma como os alunos se vão adaptar.

“É uma boa solução, mas tenho receio que os conteúdos, a forma como vão ser transmitidos, não cheguem ao destinatário, porque eles estão habituados à presença física, têm de se adaptar”, sublinha Carina Rocha, que em Peraboa, no ensino mediatizado, tinha recreio e amigos com quem brincar, além da pronta explicação do professor.

A capacidade de concentração, nas actuais circunstâncias, é uma das preocupações. “É difícil a crianças desta idade estarem com o mesmo foco. Tenho noção que todos temos de nos adaptar, mas estou mais receosa com a perda de ligação com os colegas. Quando começarem a entrar no ritmo, perceberem que não vão para o intervalo”, acrescenta a tesoureira.

“Eles têm de ter o professor ao pé para os entusiasmar”

O filho de Dina Brito, habituado ao mundo digital, ficou surpreendido quando soube que ia ter aulas pela televisão. A mãe já lhe explicou como vai funcionar e ficou com a impressão de não ter ficado claro na sua mente qual o procedimento, complementado depois com outras ferramentas de ensino à distância, como as salas virtuais onde podem conversar com a professora.

Apesar de ser um ajustamento a tempos excepcionais, não é algo que Dina Brito gostasse que tivesse continuidade. “Não é o tipo de ensino que eu queria para ele. Eles têm de ter o professor ao pé para os entusiasmar, para os motivar para os conteúdos a aprender”, salienta a técnica de acção educativa, que em 1994 transitou com naturalidade do ensino primário regular para a telescola, a funcionar na mesma escola e com a sua turma de sempre.

Dina Brito sempre se sentiu preparada e até achou que o ensino através do ecrã foi mais consistente. “A aprendizagem era completamente diferente, mas, por exemplo nas línguas, aprendi muito melhor francês na telescola do que inglês no ciclo, onde o ambiente já não era tão familiar”, recorda, acentuando que “a presença do professor é fundamental”.

Ter andado na telescola provoca surpresa

Por estes dias, em que se voltou a falar do ensino à distância, Dina Brito voltou a notar em muita gente surpresa ao saberem que estudou com recurso a uma televisão, onde os vídeos “era como se fossem documentários”.

É também essa a sensação de Carina Rocha, que quando passou da Escola de Peraboa para a Covilhã percebeu que a telescola era um mundo desconhecido para a maioria dos alunos da malha urbana da cidade e até tinha uma “conotação negativa”. Essa discriminação dissipava-se com os elogios dos professores e quando percebiam que estavam em pé de igualdade.

“Foi uma experiência boa. Não senti falta de nada. Em termos de aprendizagem, avaliações, método, disciplina, sentimo-nos equiparados a quem andava no ciclo”, vinca Carina Rocha, com a certeza de que as circunstâncias dos seus filhos, numa altura de excepção, não são as mesmas.

 

Aulas vão funcionar em blocos de 30 minutos, de segunda a sexta-feira.

#EstudoEmCasa na RTP Memória

As aulas para os alunos do ensino básico, transmitidas na RTP Memória durante o terceiro período, começam no dia 20 e vão ter apenas 30 minutos, incluindo disciplinas como educação física e artística.

A grelha do espaço #EstudoEmCasa vai ocupar parte da programação da RTP Memória durante o terceiro período, das 9h às 17h50, com aulas para o 1.º e 2.º ciclos de manhã e para o 3.º ciclo à tarde.

As aulas destinadas aos alunos do 1.º ao 9.º ano de escolaridade arrancam no dia 20 de Abril, após o início do terceiro período, dia 14, e o regresso de cerca de dois milhões de alunos ao ensino à distância.

À excepção das aulas de educação artística, que se destinam a todos os alunos, a grelha está organizada por escolaridade e a parte da manhã está reservada às aulas do 1.º ao 6.º ano, enquanto os conteúdos para os alunos do 7.º ao 9.º ano são transmitidas à tarde.

Os diferentes anos são agrupados em grupos de dois e, por isso, os alunos do 1.º ano vão partilhar a matéria com os alunos do 2.º ano, à semelhança dos alunos dos 3.º e 4.º anos, 5.º e 6.º anos e 7.º e 8.º anos, sendo a excepção as aulas do 9.º ano.

A programação vai incluir disciplinas como Educação Física, Literatura, Alemão, Francês e Espanhol até 30 minutos diários de iniciação ao Português para falantes não-nativos. Já os alunos 1.º ciclo vão ter trinta minutos semanais de leitura e para os 5.º e 6.º vai haver “oficina de escrita”.

A cidadania é transversal a todos os anos de escolaridade e vai ser abordada no contexto de várias disciplinas, como Estudo do Meio, História, Geografia ou Ciências Naturais.

O Ministério da Educação explica que a emissão do #EstudoEmCasa na RTP Memória vai permitir alcançar a generalidade dos alunos, ultrapassando alguns dos constrangimentos no acesso ao ensino que têm sido denunciadas por pais, professores e directores escolares ao longo das últimas semanas.

O primeiro-ministro anunciou que, até ao 9.º ano, todo o terceiro período prosseguirá com ensino à distância, com avaliação, mas sem provas de aferição nem exames, mantendo-se os apoios às famílias com filhos menores de 12 anos.

António Costa adiantou que, “de modo a ter o alcance mais universal possível, estas emissões diárias [de ensino à distância] serão transmitidas, a partir do dia 20, no canal RTP Memória, que é acessível não só por cabo ou satélite, mas também através da TDT”.

Paralelamente, a RTP 2 vai também transmitir conteúdos direccionados às crianças da educação pré-escolar.

O Governo decidiu encerrar todas as escolas e desde 16 de Março que o ensino passou a ser feito à distância. Em casa, estão cerca de dois milhões de crianças e jovens que frequentavam desde creches a estabelecimentos de ensino superior.

Governo alerta para medidas de segurança

Professores e alunos devem cumprir várias medidas de segurança, para proteção de privacidade e dados pessoais, no uso de plataformas digitais para o estudo e ensino em casa, recomendou o Ministério da Educação (ME).

“Pense antes de publicar informação sensível”, “Seja cuidadoso com a ‘webcam’ e o microfone”, “use palavras-chave fortes” são algumas das recomendações anunciadas pelo ministério, através da Direcção-Geral da Educação em parceria com o Centro Nacional de Cibersegurança e a Comissão Nacional de Protecção de Dados.

As recomendações foram feitas antes do arranque do terceiro período do ano lectivo, na terça-feira, com a maioria das escolas fechadas e com cerca de dois milhões de crianças e jovens confinados em casa, com o ensino a ser feito à distância, através de várias plataformas digitais.

Nas recomendações feitas – em www.apoioescolas.dge.mec.pt -, o Ministério da Educação deixa dez sugestões genéricas sobre uso de Internet no ensino à distância e outras mais específicas para professores e estudantes que recorram às plataformas digitais Zoom, Moodle, Microsoft Teams e Google Classroom.

Já a Comissão Nacional de Protecção de Dados alerta que “as plataformas escolhidas devem ter finalidades bem definidas e compatíveis com o ensino à distância” e “deverão recolher e tratar os dados estritamente necessários para as finalidades especificadas”.

Segundo a comissão, a utilização de “tecnologia de suporte ao ensino à distância” pode acarretar riscos, nomeadamente “de utilização indevida dos dados transferidos” “por parte dos responsáveis dos tratamentos, ou por subcontratantes que forneçam serviços dessas plataformas”.

Há ainda o “risco de definição de perfis ou avaliações, com base na informação observada da actividade dos utilizadores (professores ou alunos)” e o risco de “vigilância à distância com a finalidade de controlar o desempenho profissional dos professores”.

Até ao final deste ano lectivo, as escolas só reabrirão para os alunos do 11.º e 12.º anos.

Telescola em Portugal começou em 1965

A telescola começou em Portugal a 6 de Janeiro de 1965. Os alunos eram acompanhados nos postos de recepção por monitores. O objectivo era facilitar o cumprimento da escolaridade obrigatória, ensino primário e preparatório, a alunos de zonas mais periféricas.

Na década de 80 a telescola deixou de ser transmitida pela televisão e passou a ser ministrada através de de videocassetes, libertando o canal para outros programas.

Ao longo dos anos a telescola foi mudando o nome. De Curso Unificado Telescola passou a Ciclo Preparatório TV e posteriormente a Ensino Básico Mediatizado (EBM).

Em Julho de 2003 foi anunciado que a partir do ano lectivo 2003/2004 iriam começar a ser extintas as escolas do EBM, na altura cerca de 320, dedicadas ao ensino do 5.º e 6.º anos. Em 2001/2002 havia cerca de 5200 alunos inscritos em EBM.

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