THIS IS PORTUGAL

Isto é o Bangladesh. Isto é mesmo o Nepal, isto também é a China, isto é mesmo a Índia, isto é Timor, isto é mesmo o Paquistão. Isto é também a Ucrânia

Escolhi um título em inglês para melhor entendimento, já que esta forma de comunicação está a tornar-se a língua oficial de… Portugal. E em abono da verdade, escrevendo em Língua Portuguesa, corro o risco de não ser bem entendido. E não pelos milhares de imigrantes que vivem e trabalham no nosso país, refiro-me mesmo aos que cá nasceram, portugueses naturais, portugueses “de bem”, portugueses de “primeira”. Há-os por aí aos magotes, que fazendo uso da Liberdade de Expressão que a Democracia lhes proporciona, escrevem mal, muito mal, emitem opiniões cheias de erros de ortografia, fazendo muitas vezes comentários carregados de ódio e de maledicência, e publicando slogans criminosos e ignorantes. Os outros, os de segunda, que procuraram este território por melhores condições de vida, usam o quotidiano para se tentarem fazer entender, e os contactos que a integração lhes permite para falarem português. Isto é o Bangladesh. Isto é mesmo o Nepal, isto também é a China, isto é mesmo a Índia, isto é Timor, isto é mesmo o Paquistão. Isto é também a Ucrânia. Quase todos os trabalhadores oriundos destas regiões do globo, tantos deles precários, estão muitas vezes perto do desemprego, não têm onde morar, e mesmo assim continuam a querer fazer parte disto.

Todos eles, cerca de um milhão e meio, ajudam a fazer isto. Isto é Portugal. E muitos deles são, segundo as leis de imigração, “imigrantes ilegais”. O que é isto de ser ilegal? Isto é naturalmente um preconceito das sociedades actuais, porque conceptualmente ninguém é ilegal quando decide por si só, ou em família, partir com o fito numa vida melhor. O “ilegal” estigmatiza e desumaniza. Quando muito, na incessante busca de se instalar, ou tentar empregar-se, pode configurar uma situação de irregularidade.

Há uns anos, cheguei a um país com contrato de trabalho e residência, e três meses depois essas condições deixaram de existir. Estive uns meses em precariedade, visando a integração. Nunca me senti um ilegal, bem pelo contrário. Nunca me considerei um cidadão de segunda, era apenas mais um a tentar uma vida digna. Respeitando as regras básicas do civismo e da cidadania. Fiquei quase seis anos. Hoje também sou um deles.

Isto também é o Brasil, isto é Cabo Verde, e isto é Angola. Isto é a Itália, isto é a França, isto é a Espanha. Isto é o Reino Unido. Muitos dos que cá vivem, passam por enormes dificuldades, enfrentam o inferno da pobreza, da exclusão social. E sentem também, num fenómeno cada vez mais entranhado, a intolerância, a xenofobia, o racismo. Acredito que muitos deles sintam medo, humilhação, violência. Ponho-me no seu lugar, e também sinto o mesmo. Isto é a República Checa, isto é a Polónia, isto é a Hungria… não me canso de gritar, isto é São Tomé, isto é Moçambique, isto é a Guiné!

E atenção, para os mais “distraídos”, isto não é uma notícia, é um artigo de opinião, e não é de esquerda, nem de direita, é escrito a pensar nas pessoas.

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