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Todos os anos a mesma coisa

André Amaral

(Editor do Expresso das Ilhas- Cabo Verde)

Sou de Viseu, acho que já vos tinha escrito isto, e lembro-me bem de, quando era miúdo, o período da Feira de São Mateus ser uma altura de mudança do clima. Os dias ficavam mais frescos e uma ida à feira, especialmente durante os últimos dias, obrigava a usar-se, já, casacos e camisolas e a chuva era frequente. Hoje em dia não.

Sendo certo que o calendário da Feira mudou, também é certo que o verão é mais longo, mais seco. O clima está a mudar e, numa altura em que já nada o fazia prever, porque já se esperavam temperaturas mais baixas, eis que surge, de novo, o inferno dos incêndios. Morreram 7 pessoas e bem mais de 100 ficaram feridas, mais de 150 mil hectares arderam numa semana. Onde?

Num interior desertificado. Num interior onde matas e florestas crescem sem controlo. Num interior onde quem o habita já não tem saúde, não tem rendimentos que permitam abdicar de uma pequena fortuna para limpar terrenos agrícolas e florestais. Perguntem quanto custa uma hora de trabalho de um tractorista, quanto custa contratar pessoas, se as encontrarem, que façam esses trabalhos. E a quem disser que antigamente não havia incêndios porque as matas estavam limpas eu direi que sim, que têm razão. Mas direi também que isso acontecia porque as matas e florestas faziam parte de um sistema de agricultura de sobrevivência. Porque as matas e terrenos agrícolas permitiam às pessoas pouco mais que isso… sobreviver. Tempos que já lá vão e que não voltam. Hoje, a sobrevivência das matas e florestas do país não pode mais ficar na dependência solitária de quem já não pode, não consegue ou não tem condições de saúde ou financeiras para o fazer. Tem de ser um desígnio nacional e comunitário em que todos se sintam responsáveis e acima de tudo responsabilizáveis. Mas tudo isto passa, também, pela necessidade de se implementarem políticas públicas que atraiam a população para o interior, que mitiguem a desertificação e o envelhecimento gradual da população que ali vive.

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