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Transportes no Interior: o País que ficou para trás

Ana Antunes

Presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da UBI

As regiões de Castelo Branco, Guarda e Covilhã enfrentam uma realidade gritante de abandono no que toca à rede de transportes públicos, mesmo em pleno 2025. No Interior do País, a acessibilidade e a mobilidade não são um luxo, mas uma necessidade básica. No entanto, aquilo que deveria ser garantido como um direito continua a ser negligenciado pelo poder executivo central. A população destas regiões vive, muitas vezes, sem acesso a uma rede de transportes que lhes permita deslocar-se de forma eficaz, especialmente para questões de saúde. Muitas das aldeias desta região dependem de extensões de saúde locais onde não há médicos de família a tempo integral (tendo em conta o atual estado do SNS), obrigando as pessoas utentes a procurar alternativas em centros de saúde ou hospitais distantes. E como é que chegam lá? Infelizmente, sem transportes regulares e eficientes, muitas pessoas ficam sem opções, forçadas a adiar ou a abdicar de consultas e tratamentos essenciais.

Nós, estudantes de medicina, enfrentamos também diariamente este problema. Realizamos estágios curriculares entre estas ULS e deparamo-nos com uma rede de transportes que é tudo menos funcional. Os horários são escassos, as ligações demoradas ou até mesmo inexistentes e o resultado é um verdadeiro obstáculo à formação de futuros/as profissionais de saúde e ao apoio que pretendemos prestar à população.

O governo central anuncia medidas, como passes gratuitos para jovens e estudantes, que à primeira vista parecem soluções inovadoras. Mas, no Interior, essas medidas não passam de promessas vazias. De que serve um passe gratuito se não existe uma rede de transportes que ligue estas localidades de forma eficiente? É um paradoxo e um exemplo claro de políticas que não atendem às especificidades do Interior.

Portugal não pode continuar a ser um País a duas velocidades, dividido entre o Litoral e o Interior. Precisamos de investimentos reais e concretos nas infraestruturas de transportes destas regiões. São necessários sistemas de transportes regulares que conectem os municípios e horários ajustados às necessidades da população. A falta de transportes não é apenas uma questão de comodidade; é uma questão de igualdade e justiça social. Quando as populações do Interior não têm acesso a cuidados de saúde por causa da ausência de transportes, o direito fundamental à saúde é posto em causa. Quando estudantes e trabalhadores não conseguem deslocar-se, as oportunidades académicas e profissionais tornam-se privilégios reservados às grandes cidades.

Portugal não é apenas Lisboa, Porto ou as grandes áreas metropolitanas. É também Castelo Branco, a Guarda, a Covilhã e tantas outras localidades que continuam a lutar para ter o mínimo de condições que deveriam ser universais. O Interior apenas pede justiça. E o governo tem o dever de responder, antes que seja tarde demais.

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