Nuno Ezequiel Pais
(Conselheiro Nacional do PSD)
O Primeiro-ministro de Portugal teve a excelente ideia – por todos saudada – de começar já as reuniões com os partidos com vista a elaborar o Orçamento do Estado para 2025. Não é hábito. O hábito é fazer de conta que se negoceia. O hábito é atirar para depois das férias esses encontros com os partidos e ignorar tudo (ou quase tudo) o que neles é dito. Foi a isso que nos habituou o Partido Socialista, em oito anos a fazer orçamentos. Desta vez, o orçamento será mesmo debatido, num espírito de procura das melhores soluções. E o melhor é que vai ser debatido com as cartas na mesa. O Primeiro-ministro, que não gosta de meias-palavras nem de fingimentos, disse logo ao que vinha: não vai dizer “sim” quando a sua convicção for “não”.
Do outro lado está uma oposição que não quer eleições. Nem Partido Socialista nem Chega as querem. Estão demasiado convencidos de que lhes correrá mal. O PS, porque não terá mais deputados do que o PSD.O Chega, porque perderá muitos lugares. Bloco, PCP e PAN – ainda que estejam irados por não contarem para nada nesta legislatura – não querem arriscar eleições que os corra de vez de S. Bento. É que, para a história do Parlamento já bastou o tempo que o CDS ficou de fora. O Livre sonha com uma geringonça que os inclua. A IL quer fazer uma oposição que se ouça, mas que não atrapalhe. No meio disto tudo há dois homens a fazer figas: Pedro Nuno Santos e André Ventura. Pedro Nuno faz figas para o Governo lhe dar alguma razão para deixar passar o orçamento. Perder uma segunda vez com Montenegro era a pior coisa que podia acontecer ao Secretário-Geral do PS. Por isso tem pedido uma e outra vez ao Governo para que negoceie. As figas de Ventura são mais complicadas: quer que Montenegro ignore o PS e faça uma coligação com o Chega. Como isso é quase impossível de acontecer, quer que o Partido Socialista aprove o orçamento para o Chega poder [sem gerar consequências] votar contra. Ou seja: Ventura quer tudo menos eleições. As Europeias foram uma boa forma de ver que o Chega chegou ao máximo da sua performance eleitoral. Ventura sabe-o e não quer ir tão cedo a votos. Assim, Luís Montenegro está tranquilo: vai dar a Pedro Nuno um ponto de fuga e fazer – momentaneamente – com que Ventura pareça líder de oposição. Depois, como é sabido, é deixar morrer pela boca o peixe.