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Um desconhecido na terra natal

Carlos Madaleno

Historiador

Miguel António de Pina Osório Flangini – Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, Tenente Coronel do exército do Sul, Brasil, Sargento-mor no corpo dos Reais Voluntários do Príncipe e Capitão da Leal Legião Lusitana, poderia ser considerado um herói na sua terra-natal, a Covilhã, servindo de exemplo e motivando o orgulho dos conterrâneos. Todavia é mais um ilustre desconhecido para a maioria, engrossando a ignorada, mas vasta galeria dos aqui nascidos com provas dadas por esse mundo fora.

Miguel António Flangini nasceu na freguesia de Santa Maria, na Covilhã, em 20 de setembro de 1786. Era filho de Miguel Ângelo Lucas Flangini, natural de Pescaglia, da antiga República de Lucca, que casara com D. Gertrudes Eugénia de Pina Osório, descendente de umas das mais nobres e ricas famílias da região. Foi batizado, a 10 de outubro de 1786, pelo vigário de Santa Maria, Simão da Costa, sendo padrinho o cónego da Sé da Guarda, António da Fonseca.

Aos 18 anos, em 1804, ingressou na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se formaria a 7 de julho de 1807, tendo sido aprovado nimene discrepante. Entretanto, Portugal era invadido pelas tropas francesas, a Coroa era obrigada a partir para o Brasil, a fome e a violência apoderavam-se do País. Miguel António quis defender a Pátria, alistou-se então na Leal Legião Lusitana, um corpo de voluntários constituído por Portugueses exilados em Inglaterra que, no contexto da Guerra Peninsular, combateu os invasores franceses. Não se sabe se Miguel António ingressou neste corpo militar de elite, em Inglaterra ou Portugal, mas nele se tornou muito apreciado e próximo de um dos comandantes, o coronel Carlos Frederico Lecor. Durante a Guerra Peninsular, enquanto Tenente da Leal Legião Lusitana, é assistente de Benjamin D’Urban, Quartel Mestre General do Estado-Maior do Exercito. Em 25 de agosto de 1812, é promovido a capitão, com o mesmo exercício.

Em 1815, a convite do agora tenente general, Carlos Frederico Lecor, comandante em chefe da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, passa para este novo corpo como sargento mor Deputado do Quartel Mestre General. Embarca então rumo ao Brasil. A 20 de janeiro de 1817, a Divisão dos Reais Voluntários conquista triunfalmente Montevidéu (hoje capital do Uruguai), sendo aí recebida com todas as honras pela diferentes entidades e autoridades. Em 28 de agosto desse ano, o general Lecor pede ao rei que promova Miguel António Flangini a tenente coronel pelos seus bons serviços, o que é aceite. Flangini torna-se ainda secretário militar de Lecor, também ele agraciado com o título de Barão de Laguna. Em Montevidéu viria a casar com Juana Ximenes, onde se manteve até a independência do Brasil. Foi seu filho Miguel Alberto Flangini Ximenes, que chegou a ser presidente interino da Républica Oriental do Uruguai.  Continuou fiel a D. Pedro, agora Imperador do Brasil e foi dos primeiros a felicitá-lo por carta de 12 de outubro de 1822. Também em nome do Exército do Sul, comandado pelo Barão de Laguna, coube a Miguel António Flangini apresentar o apoio ao Imperador no trono do Brasil. Veio ainda a ser agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, tomando papel político ativo na nova nação. Em São Paulo foi dado o seu nome a uma das principais artérias.

Na Covilhã, que se intitulou já como cidade berço da globalização, este seu filho permanece ignorado e desconhecido.

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