É Moderna no nome, mas também na maneira de negociar, embora já exista há 75 anos, sendo a primeira Loja com História do concelho da Covilhã. A Drogaria Moderna, localizada na Rua Rui Faleiro, na subida para o antigo hospital, assinalou na passada quarta-feira os seus 75 anos de vida, com uma cerimónia simples, em que a autarquia entregou a placa de Loja Com História a este que é um estabelecimento icónico do comércio local na cidade.
Hoje gerida por João Paulo Pereira, 58 anos, a loja, fundada em 1950 pelo pai, é um “exemplo de perseverança e capacidade de adaptação, mantendo-se firme num mercado em constante transformação”, salienta a autarquia covilhanense, que destaca que ao longo destas sete décadas e meia, a Drogaria Moderna se tornou “mais do que um mero espaço de comércio, sendo também elemento essencial na vida quotidiana dos covilhanenses e testemunha do crescimento e evolução da cidade.”
“O meu pai abriu a loja em 1950, e pelas suas características, é única. Já não se encontram muitas lojas destas por aí. É uma drogaria, o que é um negócio muito específico, em que se vende um pouco de tudo. Tirando o ramo alimentar, à exceção do açafrão, que é uma especiaria muito nossa, dos covilhanenses, por causa do pastel de molho. Temos aquelas coisas que fazem parte da cultura da terra, o cremor tártaro para os bolos, receitas mais antiga para dar nos móveis, coisas que nos outros sítios só se encontram embaladas, e aqui ainda se vão fazendo, com conselhos de como fazer as coisas à antiga portuguesa” explica ao NC João Pereira. Com uma montra atrativa, renovada todos os meses, a drogaria convida a conhecer o interior onde a tradição e inovação andam de mãos dadas. Nas prateleiras de madeira escura, pode encontrar desde antigas caixas registadoras, que já não funcionam, a máquinas de escrever, produtos mais modernos que se encontram em qualquer hipermercado, mas também as já pouco habituais pastas dentífricas Couto, cuja publicidade na televisão ainda mora no imaginário de alguns, aos restauradores Olex, que deixavam o cabelo da malta dos anos 70/80, num mimo.
Em janeiro deste ano, a Câmara aprovou a denominação que a Drogaria Moderna se tornou a primeira Loja com História do concelho. Foi João Paulo quem fez a proposta ao município, a que se seguiu um processo de mais de um ano a reunir o dossier de candidatura, com o apoio da Associação Empresarial, e a aguardar os trâmites e a avaliação por parte da comissão para o efeito. O essencial estava na loja e no arquivo da loja herdada do pai, onde João Paulo nunca ponderou trabalhar. Documentou os múltiplos objetos que se mantêm desde que a drogaria foi fundada, faturas, fotografias, fórmulas, juntou ao processo as evidências do que sempre se empenhou em preservar e o reconhecimento do executivo foi unânime. Atento às novas tendências, João Paulo também preserva uma espécie de “laboratório” onde cria produtos típicos, herdando algumas fórmulas químicas do pai, que ganhou conhecimentos como ajudante de farmácia. Por lá há frascos de vidro com essências, ceras, óleos, parafina ou resinas, mas diz que hoje, à luz de lei, é cada vez mais difícil fazer produtos mais caseiros. “Faço os possíveis para ter nas prateleiras produtos mais típicos, como as pastas Couto, os cremes da Benamôr, os Tokalon (creme de cosmética), que ainda vai havendo no mercado. Produzir, já produzo pouco, porque a legislação, hoje em dia, já não permite que façamos algumas coisas, embora estejamos a ir de novo para uma fase em que o granel, e as pessoas fazerem coisas em casa, como os sabonetes e velas, voltam a ser tendência” afirma.
A Drogaria Moderna é, segundo João Pereira, ainda muito jovem na forma de negociar. Segundo ele, hoje as vendas online sustentam mais de 50% por cento do negócio, e por isso os seus produtos chegam de Norte a Sul do País, mas também ao estrangeiro, com maior predominância na Europa. “Tenho feito crescer a loja, com o online, e alguma resiliência da minha parte. Acompanhei a parte das redes sociais, apanhei o comboio digital. Tenho conseguido manter a casa à tona e não só. Inclusivamente, tenho-a feito crescer” assegura.
Sobre o galardão recebido, significa que “o município valorizou o facto da loja estar aberta há tantos anos e ter-se mantido assim. É também uma homenagem ao meu pai, e um prémio à resiliência. Penso que também nos trará mais gente” vaticina. Para João Pereira, a Drogaria Moderna é também a representação da cultura, do património e da “história da cidade”, que esta semana comemorou 155 anos como tal.
Há 27 anos atrás do balcão, João Pereira viu muito comércio fechar, mas a drogaria soube reinventar-se, e segundo o mesmo, hoje a venda online já é imprescindível para que a longevidade da Drogaria Moderna se mantenha. “Se não for assim, dificilmente”, afirma o proprietário, que apostou no digital em 2012, aposta que se acentuou e fez a diferença durante a pandemia, em 2021.