Daniel Santos Silva
(Médico no C.Saúde de Belmonte)
O coração é, para muita gente, o mais nobre órgão do corpo e é muitas vezes dito como sendo aquele sem o qual nenhum dos outros funciona corretamente. Embora isto seja apenas parcialmente verdade, porque o cérebro é a verdadeira central de comando, cuidar do coração é essencial para o bom desempenho do corpo.
Anualmente, o mês de maio é designado como o “Mês do Coração”, desenrolando-se um conjunto de atividades e iniciativas de promoção da saúde que visam proteger a saúde do seu coração.
Uma das doenças que mais ameaça o bem-estar do coração e, sem dúvida, a hipertensão arterial, que é altamente prevalente a nível mundial e é, na opinião de muitos médicos (e na minha) um verdadeiro problema de saúde pública que representa perdas enormes de qualidade de vida e, simultaneamente, elevados custos em saúde para o SNS.
Na ótica dos doentes, a hipertensão nem sempre é uma doença grave porque, regra geral, não dá sintomas muito incomodativos – alguns referem tonturas ou dores de cabeça, mas nada impeditivo de desenrolar o seu dia-a-dia. No entanto, a longo prazo, a hipertensão causa um grande conjunto de danos que podem não ser recuperáveis. Além de lesões noutros órgãos como os rins, o cérebro e os olhos, é no coração que a elevação da tensão arterial faz um dano considerável, distorcendo a estrutura do coração e influenciando negativamente a sua função, levando, por exemplo, a problemas valvulares e insuficiência cardíaca.
No Serviço Nacional de Saúde continua a ser vital a aposta em bons serviços hospitalares de Cardiologia, dotados de bons profissionais e equipamentos. No entanto, é nos cuidados de saúde primários que a prevenção e a atuação devem começar, designadamente através da aplicação das consultas de vigilância do programa de hipertensão.
Estas consultas, que deve ser realizadas de 6 em 6 meses, preveem a realização de uma consulta de enfermagem e de uma consulta médica de forma subsequente, permitindo a avaliação da tensão arterial e outros dados (peso, índice de massa corporal e risco cardiovascular) além de verificar se a medicação está adequada e se o doente tem outras queixas.
Além disso, é de extrema importância a realização de iniciativas para a comunidade que permitam sensibilizar e rastrear doentes cujo diagnóstico possa ser desconhecido, ao mesmo tempo que reforçam o conhecimento dos doentes hipertensos sobre a sua doença (por exemplo, com a explicação, sempre necessária, da técnica de medição da tensão arterial).
O controlo da hipertensão arterial depende de uma cooperação entre os profissionais de saúde e os doentes. Mesmo sabendo das carências que muitas das unidades de saúde atravessam, estou ciente de que, na sua maioria, estão dotadas de profissionais atualizados e atentos que poderão esclarecer as dúvidas de todos. Do lado dos doentes, aquilo que se pede é que sejam ativos sobre a sua doença, seja cumprindo a terapêutica, seja estando presentes nas consultas, que foram desenhadas para seu benefício.